terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Uma nova visão da universidade como produtora de conhecimento


Data de publicação: 10/02/2011

Por Luciane Miranda de Paula

O conhecimento é o objetivo primeiro e principal e a essência de todas as propostas dos sistemas de educação superior. Ele é inerente a todo e a qualquer um desses sistemas, independentemente de seu país e sua estrutura social. Nenhum conjunto de organizações abrange tão largo campo de conhecimento como as universidades. A razão é simples: com a divisão do trabalho na sociedade, todas as produções e resultados advindos de pesquisadores que estão na educação superior são definidos como avanços. Este componente prático de conhecimento avançado configura-se juntamente com alguns diferenciais humanísticos e filosóficos que são especificamente encontrados no perfil de tais pesquisadores.



Burton Clark faz uma consideração elementar sobre tipos de conhecimento e grupos de conhecimento: “O conhecimento é o material básico ou substâncias, como corpos de ideias avançadas e redes relacionadas, que abrangem muito mais que culturas específicas de cada nação. Os acadêmicos têm se comprometido a descobrir novas facetas desse material básico e, através dessas descobertas, manipular, conservar, refinar e transmitir esses conhecimentos”.(Clark,1983, p. 11)
Os autores Helga Nowotny, Peter Scott e Michael Gibbons (2003), em “Mode 2” revisited: the new production of knowledge. (“Modo 2” revisitado: a nova produção do conhecimento), abordam a dinâmica da ciência e da pesquisa em sociedades contemporâneas. Eles reuniram, nessa obra, alguns filósofos, historiadores e sociólogos da ciência prontos a discutir de que maneira a produção de conhecimento e o processo de pesquisa estão sendo radicalmente transformados em um novo paradigma.
E sse novo paradigma da produção do conhecimento foi chamado de “Modo 2” e envolve o conceito de um novo formato de produção do conhecimento, um exemplo de distribuição social de conhecimento. Nele, há melhores mecanismos de ligar ciência e inovação; seria o conhecimento “socialmente distribuído”, transdisciplinar e sujeito às múltiplas responsabilidades.
O “Modo 1”, descrito por Michael Gibbons e outros (Gibbons et al., 1994), seria caracterizado pela teoria hegemônica ou ciência experimental, e também por uma direção interna de classificação de disciplinas e pela autonomia de cientistas e suas instituições, como as universidades. Este seria o modelo acadêmico centrado no pesquisador e em disciplinas, e a produção de conhecimento seguiria um padrão linear, da ciência básica à aplicada e, depois, ao desenvolvimento e à produção.
Ao contrário disso, no “Modo 2”, a produção de conhecimento seria mais contextualizada, focada em problemas e capacitada a explorar caminhos da interdisciplinaridade.
Essa tensão existente na pesquisa científica refere-se à dicotomia entre pesquisa básica e pesquisa aplicada e, embora conceitualmente diferentes, analiticamente e do ponto de vista de seus objetivos, o que podemos destacar como relevante é a atual discussão de mudança de paradigmas no conflito entre conhecimento e uso.