segunda-feira, 19 de agosto de 2013

AGOSTO E OS POETAS





Dizem que o mês de agosto tem uma aura de mistério. Mês do desgosto, segundo os supersticiosos... Não é a toa que os poetas tem um certo receio do dia 24, dia de São Bartolomeu. Vejamos o que diziam Leandro Gomes de Barros e José Pacheco:

“Vinte quatro de agosto
Uma data duvidosa
Dia em que o diabo se solta
E pode dizer uma prosa,
Nesse dia foi o parto
Da Vaca Misteriosa”

(O boi misterioso – Leandro)

A vinte quatro
Do oitavo mês do ano
Todo pessoal ‘romano’
Teme a São Bartolomeu...

(Peleja de um cantador de coco com o diabo – José Pacheco)

Justamente nesse mês, que ainda está na metade, morreram três grandes expoentes da poesia popular.
Por e-mail, o poeta Geraldo Amâncio nos informa sobre o falecimento de dois grandes repentistas: “Nos últimos dois dias, perdemos dois poetas repentistas, coincidentemente ambos tinham o nome de Luiz, Luiz Campos de Mossoró e Luiz Bonifácio de Campina Grande. A notícia da morte do primeiro eu soube através do poeta Zé Lucas de Barros e do segundo através do poeta Moacir Laurentino. Luiz Campos foi de uma verve invejável, de uma criatividade ímpar em termos de improviso. Como seria bom se os novos cantadores   se espelhassem nesse exemplo, perdessem o medo de improvisar, esquecessem a mania de escrever, cujo gesto denigre a história da cantoria improvisada.Há centenas de estrofes de Luiz Campos sendo declamadas, recitadas, lembradas de boca em boca, e não há ninguém declamando estrofes dos cantadores que só cantam o que escrevem. Moacir Laurentino diz com muita precisão, que a cantoria decorada é condenada pela própria natureza. Siginifica dizer que morrendo o decoreba nada fica na memória do povo. Luiz Campos além do improviso, também escrevia poemas matutos de belo feitio.



Luiz Bonifácio era um bom improvisador. A sua obra mais conhecida foi o poema "Ninguém cortou meu destino" muito cantado nos programas de rádio e nas cantorias em épocas passadas.

MORTE CRUEL ASSASSINA,
CARREGOU DE UMA VEZ SÓ
UM LUIZ DE MOSSORÓ,
OUTRO LUIZ DE CAMPINA.
NO MUNDO DO DESAFIO
FICA UM ETERNO VAZIO
DE CAMPOS E BONIFÁCIO.
GORGEIAM DOIS SABIÁS
NOS SALÕES CELESTIAIS, 
LÁ NO DIVINO PALÁCIO. 
(Geraldo Amâncio)”

Do poeta Marco Haurélio recebemos também por e-mail a notícia da morte do poeta baiano Antônio Alves da Silva:



Morreu ontem, 14 de agosto, aos 85 anos, um dos maiores poetas da literatura de cordel brasileira, Antonio Alves da Silva. Extraordinário romancista, dominava todas as formas fixas do verso popular e tinha no humor seu traço mais marcante. Admirador do poeta, autor de clássicos como João Terrível e o Dragão Vermelho e Maria Besta Sabida, incluí um romance seu, João sem Destino no Reino dos Enforcados, na Antologia do Cordel Brasileiro, publicada pela Global Editora. Em 2003, venceu o concurso temático do Metrô e da CPTM, idealizado por Assis Angelo, com o cordel A Maldição das Serpentes no Sítio do Velho Chico.

Durante os dois anos em que trabalhei na Editora Luzeiro, editei vários de seus textos, adquiridos por esta casa publicadora, entre eles Maria Besta SabidaJoão Azarento na corte da rainha MaravilhaAs Palhaçadas de João ErradoÚltimos Dias de Antônio Conselheiro na Guerra de CanudosA Matança de Corisco Para Vingar a Morte de LampiãoHorácio de Matos, Herói da Chapada DiamantinaJoão Corta-Braço e O Encontro de Lampião com Antônio Silvino no Inferno