quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

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Texto de ARTUR PIRES

Um Assaré de lembranças*

(Ilustração: Patativa do Assaré - Infogravura de Arievaldo Viana)
Artur Pires

Foi em Assaré, Cariri cearense, que vivi os primeiros anos da minha infância. Nasci em Barbalha (por vontade de minha mãe, que é de lá), também no Cariri (e viajava para lá e para o Crato com frequência para visitar a parentada), mas é do Assaré que carrego as mais remotas reminiscências pueris, lá pelos derradeiros anos da década de 80. Morávamos eu, meus pais e uma das minhas irmãs numa casa simples e bonita, de mureta branca e portãozinho de ferro - à vista de todos os que passavam em frente ao local -, jardim multicor, tomado de flores e plantas, que davam uma suavizada de brisa leve e fagueira ao calor de suar em bicas que fazia por aquelas bandas.
As samambaias suspensas em jarros se espreguiçavam na varanda, os crótons margeavam os cantos do muro com sua mistura de cores, os beija-flores toda manhã vinham bicar as papoulas e, pintando parte da paisagem do jardim de encarnado, um bouganville vermelho recebia cotidianamente a visita de sabiás e bem-te-vis em seus galhos.
No quintal, mais pés de plantas: goiaba, ata, mostarda, pimenta malagueta, pimentão, tomate, capim santo, erva cidreira e erva doce esverdeavam aquela parte de trás da morada. Os calangos eram vistos aos magotes. Ficavam também por ali as galinhas de capoeira que minha mãe criava. Nesta fase da infância, meus animais de estimação eram os pintinhos. Quando brincava com eles, minha mãe ficava de olho em mim para que não os esmagasse em arrochos desmedidos. Algumas vezes os vi nascer, naquela luta árdua pela liberdade:
O pinto dentro do ovo
aspirando um mundo novo
não deixa de biliscar,
bate o bico, bate o bico,
bate o bico, tico tico
pra poder se libertar
(Patativa do Assaré – Lição do Pinto)
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* * *

Um Assaré de lembranças

(Ilustração: Klévisson Viana, na HQ Lampião... Era o cavalo do tempo atrás da besta da vida; 1998, SP, Hedra)

Vida eterna a Patativa e ao Assaré!

(Xilogravura/ilustração: Arievaldo Viana)

Mas porém vou lhe contá,
as coisa aqui como é,
sou fio do Ceará,
nascí aqui no Assaré,
...
Nesta bôa terra nossa
quando é tempo de invernada
bota girmum chega a roça
fica toda encaroçada
...
Não sendo tempo de fome
sinhô douto pode crê,
nesta terra o cabra come
até a barriga inchê,
nem carne, nem macarrão,
mas porém mio e feijão
e farinha é a vontade,
nimguém come da ração
como se faz na pensão
lá das rua da cidade
...
Tô lhe contando a certeza
das coisa do meu sertão,
aqui ninguém tem riqueza
mas porém tem munta ação
(Patativa do Assaré – Ilustrismo Senhô Doutô)