quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O POETA E O FOLHETEIRO


APRESENTAÇÃO
O POETA E O FOLHETEIRO

Maria Rosário Pinto que já carimbou seu nome na ala dos cordelistas, ao editar seu primeiro cordel, Catalogação de Cordel, 2012, mostrando o passo a passo de sua atividade na Biblioteca Amadeu Amaral do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, que foi classificado em 28° lugar, no Prêmio Mais Cultura 2010 – Edital Patativa do Assaré. Seguindo a mesma linha, Rosário Pinto parte para seu segundo cordel que tem como temática: O Poeta e o Folheterio, um enredo bem desenvolvido pela autora que conhece como ninguém os meandros da Literatura de Cordel.
Posso de dizer que Rosário Pinto, que ocupa a cadeira n° 18 na ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel e, que tem como patrono José Bernardo da Silva, Saiu muito bem da teoria para a prática e hoje, sem sombra de dúvidas, faz jus à cadeira que ocupa na ABLC.

Maria de Lourdes Aragão Catunda
( Dalinha Catunda)
Cadeira 25 da ABLC

*
O poeta e o folheteiro

1
Duas figuras importantes
Neste mundo do cordel
Um compõe o outro vende
Andando de léu em léu
Marcando assim, uma vida
De poesia, sortida
Divulgando o menestrel
2
Leandro foi o primeiro
A narrar toda esta saga
Do folheto de cordel
De história encantada
Certamente é o pioneiro
Com certeza, o primeiro
A levar pela estrada
3
Poeta e grande tipógrafo
Seu romance imprimia
Entregando ao folheteiro
Que logo distribuía
A correr feiras e vilas
E o povo fazendo filas
P’ra comprar sua poesia
4
Poucos recursos havia
Um comércio bem precário
Sustentou muita família
Vendiam abecedário
Na lida do dia a dia
Todo folheto imprimia
E também anedotário
5
De cidade em cidade
Fazia a sua vida
Seu Leandro produzindo
E o folheteiro na lida
Recebia seus mil réis
Vendia muitos cordéis
Tinha a renda garantida
6

Folheteiro não conhece
Impasse ou obstáculo
Andando de sol a sol
Em busca do espetáculo
De ver o povo sorrir
Pensar, amar, refletir
Parecia um oráculo
7
Leandro compôs mais de mil
Mais de mil foram vendidos
A tipografia era
Trabalho de aguerridos
O seu eterno borralho
Montando o cabeçalho(*)
Folheteiros atendidos
8
As ferramentas mudaram
Esta bela profissão
O folheteiro hoje vende
Folhetos em profusão,
Mas, nas redes sociais
Não nas feiras naturais
Como foi na ocasião
9
O folheteiro capaz
Na sua incansável lida
Nunca teve outro ofício
Com a vida impelida
De carroça ou jumento
Trabalho não é tormento
Tinha grande acolhida
10
Mas Leandro adoeceu,
E aquele acervo abundante,
Sua viúva fez acordo,
De vender todo o restante.
Athayde, homem rico.
Disse à viúva: eu fico!
Lhe comprou, todo o montante
11
Com a evolução do mundo
Mudou a distribuição
O folheteiro hoje vende
Folhetos em profusão,
Mas, nas redes sociais
Não nas feiras naturais
Como foi na ocasião
12
Naqueles tempos de outrora
Athayde contratou,
Cegos, homens do povo,
Por bom preço acertou,
Para vender os acervos
Aqueles belos livretos
Que Leandro lhe deixou
13
Em seu nome colocou
Toda aquela produção
Juntou os dois acervos
Sem qualquer má intenção
Naquele tempo as leis
Sem quaisquer decretos-leis
Não tinham divulgação
14
Delarme tinha estoque
Para distribuição
João José o procurou
Precisava ganhar pão
No Beco do Seridó
Muito empenhado que só
Montou ali seu Galpão
15
Negócio de pouca renda
Mas de grande amplidão
Aquela pequena renda,
Deu ganho e profissão
Para os distribuidores
Todos eles vendedores
Que tiravam o seu quinhão
16
Outro grande editor
Zé Bernado, um romeiro
Vendendo quinquiharia
Seguiu para o Juazeiro
Encontrou pelo caminho
Viajando em burrinho
O vendedor folheteiro
17
Ele que de longe vinha
Pra cumprir sua promessa
Conhecer o padre Cícero,
Andava sempre depressa
Pra chegar no dia certo
Estava, portanto, alerto
Isto ao padre ele confessa
18
Havia aquele, porém
Que fazia todo o papel
Escrever, imprimir, vender
O tipógrafo menestrel
Fez do folheto seu lema
Tendo o sertão como tema
Vivendo como segrel(1)
19
Minelvino foi um deles:
De tipógrafo a menestrel
Criava, imprimia, vendia
Fazia o seu papel
Tinha muita produção
Ensinou toda a lição
Sua vida era um tropel
20
Rodolfo tinha visão
De agregar a categoria
De poeta a cantador
Criando benfeitoria
Um Congresso Nacional
Ele fundou na Bahia
Agregando a poesia
21 
Espalhou pelo Brasil
Um ideal altaneiro
Realizou o Congresso
De Trovador, violeiro
No ano 55
Implantou com grande afinco
Ecoou no mundo inteiro
22
Para conhecer melhor
Seus poetas, cantadores
Que corriam o país
Com versos acolhedores
Da poesia impressa
O poeta fazia remessa
Aos seus distribuidores
23
O jornal daqueles tempos
Era mesmo o cordel
José Soares, que era
O repórter menestrel
Ouvia sempre nas rádios
Escrevia seus alfarrábios
Depois passava o pincel
24
Foi repórter de seu tempo
Narrava com precisão
As notícias que ouvia
Com a metrificação
Nunca perdeu uma rima
Sempre com ela se anima
Mantendo a oração
25
Não quis interromper
O ato da criação
Vou expondo, à vontade
Resquícios de uma visão
Já publiquei em prosa,
A verdade desta ação.
26
Estes versos me vieram
De tanta leitura feita
Deixo aos poetas, colegas
Dirimir qualquer desfeita
Deixe aqui seu comentário
Ou faça um abecedário
Dessa memória imperfeita
(Rosário Pinto)


Fonte: http://cordeldesaia.blogspot.com.br