Em dez pés de martelo alagoano
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Inda guardo no arquivo da memória
O engodo dos livros escolares
Que do herói imbatível de Palmares
Defraudou a grandeza meritória,
Vou mostrar o outro lado da história
Com o brado de um povo soberano,
Que jamais se curvou a tal engano,
Semeado na classe dominante.
O meu verso é navalha bem cortante
Nos dez pés de martelo alagoano.
O engodo dos livros escolares
Que do herói imbatível de Palmares
Defraudou a grandeza meritória,
Vou mostrar o outro lado da história
Com o brado de um povo soberano,
Que jamais se curvou a tal engano,
Semeado na classe dominante.
O meu verso é navalha bem cortante
Nos dez pés de martelo alagoano.
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Me recordo do príncipe altaneiro
Dando o grito da tal independência,
Que depois virou uma indecência,
Alugando o Brasil ao estrangeiro.
No meu livro, vi D. Pedro primeiro
Retratado num gesto sobre-humano,
Pra depois converter-se num tirano,
Assassino cruel, escravocrata
Defensor do castigo e da chibata
Nos dez pés de martelo alagoano.
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No meu livro escolar não encontrei
Nada acerca de Antônio Conselheiro,
Que bradou contra o jugo traiçoeiro,
Embutido na vil letra da Lei –
Esperando o retorno do seu rei
Pra pôr fim ao sofrimento humano,
Bastião, o guerreiro lusitano,
Da estirpe de Aquiles e Roldão,
Transformai este mar em um sertão
Nos dez pés de martelo alagoano.
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Enfrentando o raio e a procela,
Desbravando o mar desconhecido,
Transportando um povo embrutecido,
Vai surgindo bonita caravela,
Com a morte sinistra, dentro dela,
Atracou neste solo Americano,
Invadido por um tropel insano,
Que irão se chamar descobridores,
Urubus imitando beija-flores
Nos dez pés de martelo alagoano.
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No meu livro, eu vi em outra parte
Os valentes e fortes bandeirantes,
Corajosos e bravos viajantes,
Descendentes do deus romano Marte -
Mas agora eu digo com minha arte:
A mentira causou enorme dano;
Foram eles um grupo desumano;
De ladrões, covardes, homicidas.
Eu os chamo “bandidos, genocidas”
Nos dez pés de martelo alagoano.
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Admiro Castro Alves, o poeta
Que lutou contra a vil escravidão,
Tiradentes, emblema da nação,
Que morreu sem trair a sua meta,
Conselheiro, pra nós, é um profeta
Expressando seu verbo soberano,
Chico Mendes, o grande ser humano,
Defensor da floresta e da vida.
Peço a Deus que a todos dê guarida
Nos dez pés de martelo alagoano.
(Musicado pelo poeta e intérprete João Gomes de Sá)
Gênero tradicional da cantoria de viola, aproveitado excepcionalmente pela literatura de cordel, omartelo alagoano tem esquema de rima A B B A A C C D D C.