Por Ana Paula de Rezende*
O resultado da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, em
sua 3ª edição, divulgada no último dia 28/03, aponta que a média de
leitura do brasileiro é de 4 livros por ano, sendo apenas 2,1 livros até
o fim. Triste notícia se não fosse uma pesquisa, pois como toda
pesquisa é apontamento para análise e repercussão. Certo é que o
governo iniciou discussões e levantamentos de novos projetos para tentar
sanar este problema, porque como afirmou a ministra da Cultura, Ana de
Hollanda, presente na abertura do Seminário com o mesmo título da
pesquisa, “A leitura, quando vai além do livro didático,
vai permitir a formação do cidadão, vai dar ao cidadão as ferramentas do
conhecimento, permitir a ele desenvolver a capacidade de reflexão e
análise, de questionar e desenvolver seu pensamento e sua opinião. A
literatura tem essa capacidade.”
A leitura é um hábito e como tal deve
ser cultivado. O problema vem de berço, da formação do leitor, das ações
e interferências para que este leia e se habitue a ler. Para a educação
infantil, neste sentido, percebe-se diversos esforços, programas com a
utilização de livros em diversas atividades, a fomentação da curiosidade
relacionando-os com as disciplinas escolares. Mas, para mudar este
álbum de retratos opacos sobre a leitura, o desafio não está apenas na
falta de hábito, na deficiência do acesso ao livro, que começa na
infância e que se dá por uma série de motivos, atingindo outras
questões como a escolaridade. Está na falta de empenho de toda a
sociedade. Questões que envolvem a educação são muitas, como a do
controle do livro didático, a atual polêmica do consumo da merenda
escolar pelos professores, enfim, são desafios que necessitam do
envolvimento da sociedade nas políticas públicas voltadas para enfrentar
esse quadro. A exemplo do que sugeriu a deputada Fátima Bezerra
(PT-RN), que iniciou o debate sobre o resultado da pesquisa no
parlamento, acredita-se que para reverter a situação, a sociedade civil
também precisa cobrar resultados dos Ministérios da Cultura e da
Educação, de seus dirigentes e de seus eleitos.
O que impede o brasileiro de ler mais é a falta de conhecimento do prazer na leitura. “Quando a pessoa diz que não tem tempo para ler, na verdade, ela tem tempo para outras coisas, como ver televisão”, afirmou
Karine Pansa, presidenta do Instituto Pro-livro, que encomendou a
pesquisa. A conclusão citada por Amanda Cieglinski (Agência Brasil–
28/03/2012), é demonstrada no resultado, que o maior impedimento é a
falta de tempo, citada por 53%, seguida pelo desinteresse, admitido por
30%. Apenas 4% dizem que não leem porque o livro é caro e 6% porque não
têm bibliotecas perto de casa. O presidente da Fundação Biblioteca
Nacional, Galeno Amorim, afirma que o Brasil está chegando perto da meta
de ter pelo menos uma biblioteca pública por município e um dos
problemas apontados pela pesquisa é que três em cada quatro brasileiros
nunca foram a uma biblioteca. (Ginny Morais – Agência Câmara – 29/03/2012). Se
quase todos os municípios já possuem uma biblioteca, qual é o fator que
impede as pessoas de frequentá-las? É o horário de funcionamento? É a
sua atuação? Como são as atividades durante as férias?
No mês de abril, comemorou-se o Dia
Internacional do Livro Infantil (dia 02), em homenagem a Andersen e o
Dia Nacional do Livro Infantil (dia 18), em homenagem a Monteiro Lobato,
aproveitamos para relembrar que precisa-se urgentemente conquistar o
leitor, chamá-lo a participar, encantá-lo, como os homenageados o fazem
em seus textos. Precisa-se incentivar por meio da própria televisão, em
suas novelas, desenhos animados e até reality shows, o hábito
da leitura. Precisa-se mobilizar a sociedade em prol desta prática. Em
Belo Horizonte, por meio da Agência de Sistemas de Informação – AGESIN,
com o projeto “Seu livro”, pratica-se o BookCrossing, que é um
movimento, que em alguns países, prega o ato de doar livros, deixá-los
em um local público para que sejam encontrados e lidos por outros
leitores. São de práticas semelhantes a esta e iniciativas como aquela
dos textos pendurados nos bancos dos ônibus; como a da venda de livros
em revistas femininas que podem fazer a diferença. E se tivessem
livros nas cadeiras dos serviços de atendimento ao público? Como nos
bancos, nos laboratórios e até nas barracas de praia? Lugares para
iniciar o estímulo e a formação do hábito da leitura, aumentando o
número de leitores e consequentemente, de cidadãos conscientes. Que se
comece por textos, por redes sociais, por auto-ajuda, pois o que importa
é desenvolver o hábito da leitura e formar cidadãos críticos e
participativos.
* Especialista em Gestão Estratégica da Informação e bibliotecária pela UFMG.
Fonte: http://blog.crb6.org.br