terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A Cara do Meu Sertão Autor: Ocione do Maranhão – O Poeta Menor

1
Neste meu cordel querido 
De origem em Portugal
Lido e cantado nas feiras
Publicado em jornal
Peço a Deus inspiração
Pra cantar o meu sertão
De forma original
2
Sertão onde o sertanejo
Acorda de manhã cedo
Reúne mulher e filho
Não cansa o braço e o dedo
Fazendo o sinal da cruz
Agradecendo a Jesus
Corajoso sem ter medo
3
Vivendo em casa bem simples
Sem muita ornamentação
Na parede principal
O santo da devoção
No quarto um oratório
Pro momento obrigatório
Na hora da oração
4
Para dormir não precisa
Usar um ventilador
Naturalmente a brisa
Já refresca o seu calor
Acorda na hora certa
Pois o galo lhe desperta
Melhor que despertador

5
Tem cavalo bom de sela
E cachorro bom de caça
Um fogão feito de barro
Paredes cor de fumaça
Alguns porcos no chiqueiro
Outros dentro de um barreiro
Ancoretas de cachaça
6
Quintal cercado de vara
Lotado de plantação
Com todo tipo de planta
Que existe na região
Limão azedo e miúdo
Arruda que cura tudo
Hortelã e manjericão


7
E num varal de cipó
Uns vestidinhos de chita
Secando no sol ardente
Com uns lacinhos de fita
Uma camisa de riscado
Com bolso descosturado
Quarando num pé de pita
8
Bem perto passa um riacho
Que corre uma água clara
Onde o gado mata a sede
Na sombra de uma taquara
Cacimba e lagoa ao lado
Embelezando o quadro
Que a natureza prepara
9
Uma vaca parideira
Com seu bezerro passeia
Uma cabra e um cabrito
Mastiga o mato e campeia
Uma porca tem no pescoço
Um cambito grande e grosso
Pra não pular cerca alheia
10
Vizinho tem um açude
Numa moita de taboca
Gaiolas com passarinhos
Cobra dormindo na loca
Bem perto fica o roçado
Com muito milho plantado
Arroz, feijão e mandioca
11
E muito perto se avista
Alguma planta nativa
Enriquecendo a beleza
Voa alto a patativa
São coisas que com certeza
Somente a natureza
Para o homem realiza
12
Quando cai no chão a chuva
O capim todo floresce
Toda semente plantada
Germina nasce e cresce
Toda ave ali graceja
A campina sertaneja
Ligeiro rejuvenesce
13
Sertão o cartão postal
Das coisas do interior
Onde o chá é um remédio
Que alivia qualquer dor
Onde a prática da parteira
Junto com a rezadeira
Substitui o doutor
14
Quando é noite no sertão
Raposa ataca galinha
Cachorro fareja peba
Mulher reza ladainha
Sertanejo é convidado
Para comer milho assado
No terreiro da vizinha
15
Quando o dia amanhece
Sai a galinha do choco
Pato nada no riacho
O galo canta num toco
Canário canta afinado
Que o peito faz um dobrado
Cigarra canta em pau ôco
16
Sertão do carro de boi
Rasga mortalha avarento
Engenhos e bolandeiras
Da cangalha no jumento
Alambique e cachaçada
E do forró na latada
Em chão de barro ligento
17
Sertão da simplicidade
Da mulher fazendo renda
A junta de boi puxando
O bagaço da moenda
De bolo assado no forno
Onde o cabide é um torno
No alpendre da fazenda
18
Revoadas de andorinhas
Adivinhando o verão
Dizendo que vai chover
Solta o grito e o carão
E uma galinha valente
Protege o filho inocente
Das garras do gavião
19
Sertanejo experiente
Cheio de superstição
Carrega e seu patuá
Sempre uma oração
E exibe satisfeito
Uma medalha no peito
Do padre Cícero Romão
20
No sertão todos conhecem
Armadilha de arapuca
Zumbido de muriçoca
Ferroada de mutuca
Cantoria com peleja
Leilão no pátio da igreja
Com a moçada na batuca
21
Cortiço com mel de abelha
Dependurado no esteio
Uma parede de taipa
Com uma escora no meio
Feixe de lenha em cambito
O incômodo do mosquito
Touro no roçado alheio
22
Ninhada de passarinho
Muita fumaça em caieira
Couro curtido no rio
Serve pra cobrir cadeira
Uma rã e um caçote
Se escondendo atrás de um pote
Em um banco de madeira
23
Caboclo de dedo seco
De calo feito na roça
Um burro numa rodagem
Vai puxando uma carroça
Jumento preso no muro
Pinto ciscando o monturo
Por detrás de uma palhoça
24
A meia légua de distância
Fica uma bela casinha
Com balcão e prateleira
Onde tem uma vendinha
Quando é final de semana
Sertanejo toma cana
Tira o gosto com sardinha
25
Uma rede na varanda
Com alguém se balançando
Gamela d’ água barrenta
Pelo beiço derramando
Querosene em lamparina
Espingarda lazarina
Com o cano enferrujando
26
É o sertão que no passado
Abrigou o cangaceiro
Com tocaia de volante
Com trincheira e coiteiro
Armazena na memória
Lembrança de uma história
De coronel desordeiro
27
Neste pedaço de chão
Cheio de simplicidade
Que fica no meu Nordeste
Bem distante da cidade
Sei que você acredita
O sertanejo habita
Cheio de felicidade
28
Deste meu torrão querido
Não acho nada ruim
Não afirmo por ninguém
Sei que comigo é assim
Declaro de coração
Moro dentro do sertão
Com o sertão dentro de mim

Joselandia – MA janeiro/2014