segunda-feira, 1 de abril de 2013

Centro de documentação da FGV amplia acervo para consultas


Foto de época: Getulio Vargas abraça Venceslau Brás; ao fundo, Dutra Divulgação/CPDOC
Foto de época: Getulio Vargas abraça Venceslau Brás; ao fundo, Dutra (Foto: Divulgação/CPDOC)
Acervos pessoais de figuras importantes do período republicano, doados ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), serão disponibilizados para consulta pública em formato digital. O CPDOC, da Fundação Getulio Vargas, já permite a pesquisa de documentos por quem estiver interessado. Entretanto, este ano, quando completa 40 anos de existência, terá o financiamento do Ministério da Cultura (MinC) para ampliar a divulgação de seu arquivo. Outros eventos também vão celebrar o acervo, que tem como objetivo preservar fontes de pesquisa para a sociedade.
Em dois anos, serão digitalizados os arquivos de Venceslau Brás (ex-presidente, entre 1914 e 1918), Eurico Gaspar Dutra (ex-presidente entre 1946 e 1951), Café Filho (que assumiu o cargo após o suicídio de Getúlio Vargas), Gustavo Capanema (ex-ministro de Educação e Saúde) e Franco Montoro (ex-governador de São Paulo).
Dentre os achados da coleção, encontram-se seis volumes do diário pessoal de Dutra. Eles narram os acontecimentos que desencadearam o golpe de 1937. Os documentos, escritos à mão, pontuam os fatos que se sucederam até a imposição do Estado Novo, de Vargas.

No dia 9 de novembro de 1937, um dia antes do fechamento do Congresso e da promulgação de uma nova Constituição, Eurico Gaspar Dutra relata, em meio à turbulência que envolvia os preparativos para ação de seu grupo, a sugestão que dera a Getúlio Vargas.
“Procurei o Sr. Getúlio e lhe sugeri que antecipasse o movimento para desarticular os arranjos dos adversários. A minha sugestão foi aceita e, durante a noite, foram tomadas todas as medidas necessárias”.
Dutra, que já havia tido papel decisivo durante a repressão da Intentona Comunista em 1935, foi braço-direito de Getúlio e ministro da Guerra de 1936 a 1945, quando saiu do cargo para se eleger presidente para apenas um mandato. Na primeira página de dois dos volumes, no acervo do CPDOC, Dutra escreve: “Meu diário”.
No material a ser digitalizado, também há documentos como um telegrama cifrado enviado a Venceslau Brás. A mensagem vinha da frente de guerra do Contestado. Iniciada em outubro de 1912 na Região Sul do país, o conflito armado opôs forças do governo (federal e estadual) e sertanejos. A guerra durou quatro anos, até 1916.
Arquivo com mil entrevistas
Celso Castro, diretor do CPDOC, diz que, além dos arquivos de pessoas como Getúlio Vargas, Anísio Teixeira, Ernesto Geisel, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Betinho, o centro possui mais de mil entrevistas, num total que passa de 6.000 horas de gravação.
— Somos muito procurados por pesquisadores, professores, jornalistas, cineastas e o público em geral interessado em eventos, instituições ou personagens da História brasileira — afirma.
Sobre o projeto que contará com o apoio do MinC, órgão que vai desembolsar R$ 2,7 milhões, ele destaca o acervo de Gustavo Capanema, composto de 101.943 documentos:
— O arquivo de Gustavo Capanema, por exemplo, é absolutamente fundamental para o estudo de temas ligados à Educação, Saúde e Cultura no período em que ele foi ministro, entre 1934 e 1945.
Alguns papéis de Capanema reconstroem o planejamento da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão. Já os documentos de Café Filho revelam detalhes de sua turbulenta vida pública, como fica demostrado na carta com o pedido de licença à Presidência da República, logo após sofrer um ataque cardíaco.
Dentre os acervos que vão ser digitalizados, apenas o de Franco Montoro não está organizado. São 30 mil documentos (textos, fotos e vídeos).
Fonte: O Globo