sexta-feira, 24 de maio de 2013

Fio da navalha




CORDEL DE SAIA é um espaço de gestão entre Dalinha Catunda e Rosário Pinto. Aqui pretendemos publicar as produções de mulheres cordelistas, noticiar eventos e informar as novidades poéticas vindas de todos os poetas em seus estados de origem. Entretanto, hoje sou impelida a publicar um poema de cunho pessoal, feito em 2011, mas que reflete meu momento presente.

Fio da navalha
1
O fio da navalha é
Muitas vezes perigoso
Manejá-lo é ofício
De barbeiro habilidoso
Na vida se deve sempre
Ser bastante cuidadoso
2
Pois vivemos situações
Que nos deixam à deriva
Sempre buscando equilíbrio
Nos frágeis fios da vida
Num andar desajeitado
Buscando alguma acolhida
3
Ficamos de mãos atadas
Buscando forma de escape
Das teias que aparecem
Lutar sem arma ou tacape
Com olhos aparvalhados
Medo que a vida desate
4
A visão da consciência,
Às vezes, fica confusa
Pensamento embaralhado
Pensar é coisa difusa
O raciocínio nos foge
Nossa mente nos acusa
5
Vivemos situações
Que nos deixam à deriva
Sempre buscando equilíbrio
Nos fios de nossa lida
Os da navalha nos cortam
Os frágeis fios da vida
6
Há dias que relutamos
A nos levantar da cama
O corpo cansado grita:
-Quero ficar de pijama!
Mas o dever solicita
Não vale psicodrama
7
Saímos para o trabalho
Naquela lida infinita
Conduções sempre lotadas
Todo mundo se agita
E naquele empurra-empurra
Do mundo cosmopolita
8
Chegando ao nosso trabalho,
Há sempre muito a fazer
São milhares de papéis
E tudo pra resolver
São oito horas diárias
Sem poder nos abster
9
Na hora da Ave-Maria
Nosso dia chega ao fim
Com problemas resolvidos,
Saímos pro botequim
E tomar uma cerveja
Requeijão com aipim
10
Não é sempre que podemos
Falar de alma lavada
As emoções conturbadas
Ficam de forma engessada
E é por isto que vivo
De forma desatinada
11
Andamos na corda bamba
Com a vida por um fio
Todo dia, sempre igual:
Viver sob calafrio,
Dia e noite, noite e dia
A vida é um desafio
(Rosário Pinto)
abril, 2011
Imagem colhida da internet