O bibliotecário do rei
Conheça Luís Joaquim dos Santos Marrocos, que trouxe a biblioteca de dom João VI para o Brasil e se tornou um dos primeiros cronistas do Rio de Janeiro
Marcos Diego NogueiraA história é contada por vitoriosos – certamente pelos seus protagonistas e quase nunca por seus figurantes.
Na vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, quem foi motivo de relatos heróicos foi o futuro rei dom João VI e sua mulher, Carlota Joaquina. Mas outro personagem, um figurante, teve seu papel no rumo dos acontecimentos. Ele se chamava Luís Joaquim dos Santos Marrocos (1781-1838), era um mero bibliotecário, e também veio para o País devido à invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas. Sua missão, contudo, foi mais prosaica: Marrocos ficou encarregado de trazer para o Rio de Janeiro os 60 mil volumes da Biblioteca Real, orgulho da corte e retida no cais de Belém por três anos – na pressa, foram deixados para trás os livros e a prataria. Napoleão levou o que era de metal – deixou os papéis. Marrocos cuidou bem deles. Embora não tenha sido objeto de qualquer retrato, o bibliotecário gostava de escrever cartas e por meio de sua correspondência com a família, que ficou em Lisboa, fica-se conhecendo preciosos detalhes do cotidiano carioca no século XIX, agora recontados no livro “O Guardião dos Livros” (Casa da Palavra), da argentina radicada em Portugal Cristina Norton.
Tema de um capítulo no best-seller “1808”, de Laurentino Gomes, Marrocos não era dado a grandes pensamentos em suas missivas. “O que diferencia suas cartas de outras desse período é que elas são depoimentos simplórios de uma pessoa comum dando informações aos familiares”, afirma Gomes. “Não são relatos diplomáticos sobre os passos dos reis como estamos acostumados.” Foi o autor de “1808” que presenteou Cristina Norton com uma transcrição das 186 cartas, editada em 1936. Elas tratam de assuntos cotidianos como a violência no Rio de Janeiro, a doença de dom João VI ou a compra de um escravo por 98 mil réis. O presente foi bem dado. Cristina diz ter se apaixonado pelas histórias contadas pelo personagem – e foi por isso que escreveu “O Guardião de Livros”. Para não conferir à obra um ar de compêndio escolar ou histórico, ela adicionou à trama um “pouco de sal e pimenta”: “Tudo o que se refere ao que Marrocos viveu é não ficção.Evidentemente, inventei certas coisas, já que não sei se ele as disse exatamente com aquelas palavras”, diz a autora. Ainda assim, passagens reais como a história do escravo comprado por Marrocos dão a impressão de serem fictícios e esse jogo só enriquece a obra.Na vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, quem foi motivo de relatos heróicos foi o futuro rei dom João VI e sua mulher, Carlota Joaquina. Mas outro personagem, um figurante, teve seu papel no rumo dos acontecimentos. Ele se chamava Luís Joaquim dos Santos Marrocos (1781-1838), era um mero bibliotecário, e também veio para o País devido à invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas. Sua missão, contudo, foi mais prosaica: Marrocos ficou encarregado de trazer para o Rio de Janeiro os 60 mil volumes da Biblioteca Real, orgulho da corte e retida no cais de Belém por três anos – na pressa, foram deixados para trás os livros e a prataria. Napoleão levou o que era de metal – deixou os papéis. Marrocos cuidou bem deles. Embora não tenha sido objeto de qualquer retrato, o bibliotecário gostava de escrever cartas e por meio de sua correspondência com a família, que ficou em Lisboa, fica-se conhecendo preciosos detalhes do cotidiano carioca no século XIX, agora recontados no livro “O Guardião dos Livros” (Casa da Palavra), da argentina radicada em Portugal Cristina Norton.
DESPEDIDA
Foto atual da Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, que no séc. XVIII abrigou a
coleção real. Acima, tela retratando a partida de dom JoãoVI para o Brasil