RIO - Escalado como país convidado da Feira do Livro de Frankfurt de 2013, o Brasil já procura ocupar um lugar de destaque na edição deste ano do maior evento editorial do mundo, que começou ontem com a cerimônia de apresentação do homenageado de 2011, a Islândia. O mercado brasileiro foi tema de um encontro internacional sobre direitos autorais, realizado ontem, pouco antes da abertura oficial. E será discutido em eventos promovidos pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), responsável pelo estande do país em Frankfurt, ao longo da feira, que reunirá 7.300 expositores de 100 países até domingo.
A linguagem superlativa do texto de apresentação do encontro sobre direitos autorais ("Este ano todos os olhos estão no Brasil, um dos megamercados editoriais mais quentes hoje") dá a dimensão do interesse que o país já desperta em Frankfurt. O encontro teve palestras da agente literária Lucia Riff, fundadora da Agência Riff, e dos editores Tomas da Veiga Pereira, da Sextante, e Eduardo Blücher, da Blucher, casa especializada em livros científicos, técnicos e profissionais.
Nova revista com traduções
Para Lucia, o protagonismo no cenário editorial internacional é resultado da maior profissionalização do mercado brasileiro e do bom desempenho econômico do país num momento de crise global.
- Há um real aumento do interesse das editoras estrangeiras de vender para o Brasil, em função do maior poder de compra dos editores brasileiros e dos bons resultados de vendas dos livros estrangeiros no Brasil - diz Lucia, que defende que o mercado nacional aproveite esse momento favorável para fortalecer a presença dos autores brasileiros no exterior.
Como parte desses esforços de internacionalização do livro brasileiro, a FBN e a CBL realizam amanhã o evento "Look at Brazil", que levará editores, agentes e jornalistas estrangeiros ao estande brasileiro. Será apresentado o novo programa de fomento à tradução do governo federal, lançado em julho, que prevê um investimento de R$ 12 milhões na publicação de títulos brasileiros no exterior até 2020.
Na mesma ocasião, a FBN divulgará um projeto de revista dedicada à literatura brasileira que circulará em inglês e espanhol, em edições trimestrais, a partir de março de 2012. A publicação será destinada a agentes e editores estrangeiros. A cada ano será publicada uma edição em outro idioma. A primeira será em alemão.
No sábado, dia 15, o Centro Cultural Brasileiro em Frankfurt promoverá um debate na feira com a escritora Carola Saavedra, o escritor e editor Marcelo Ferroni e o jornalista e tradutor alemão Michael Kegler. Até o fim do ano, o consulado brasileiro na cidade realizará encontros com escritores como Adriana Lisboa, Santiago Nazarian e João Gilberto Noll.
Direitos digitais
Além do Brasil, o outro grande tema do encontro internacional de ontem em Frankfurt foi a influência das novas tecnologias sobre a questão dos direitos autorais. Agentes e editores discutiram temas como a incorporação de formatos digitais aos contratos e as diferenças entre a versão eletrônica de um livro e outros produtos digitais, como aplicativos.
Com um mercado de e-books ainda iniciante, o Brasil começa a se adaptar a esse novo cenário. Segundo Lucia Riff, já é rotina incluir os formatos digitais nos novos contratos de edição, mas as negociações para os títulos em catálogo ainda podem ser complicadas. Mesmo assim, algumas editoras estão adiantadas: a Zahar, por exemplo, já negociou os direitos digitais de 560 de seus 800 títulos.
Diretor da Singular, distribuidora de conteúdo digital da Ediouro, Carlo Carrenho está em Frankfurt para buscar novas parcerias internacionais para o grupo. Recentemente, a Singular fechou contrato com a distribuidora americana Ingram para lançar no Brasil o projeto Global Connect, que permitirá que livros de impressão por demanda em inglês sejam manufaturados no país, sem frete internacional.
No ano passado, Carrenho participou da primeira edição do Frankfurt Sparks, espaço da feira que concentra debates e apresentações relacionados a novas tecnologias. Este ano, o Sparks terá quase o dobro de eventos de 2011, mostrando que a feira vem se tornando um pólo importante de discussões sobre o futuro do mercado.
- Antes havia um pavilhão digital e uma programação em salas de reunião. Com isso, e na correria dos editores, ninguém via nada. Agora os editores tradicionais acabam tropeçando nas empresas de tecnologia e nos eventos digitais, sendo obrigados a refletir sobre suas estratégias nesse campo.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/10/11/brasil-vai-feira-de-frankfurt-de-olho-no-presente-no-futuro-925558158.asp#ixzz1ag37M5ib