domingo, 4 de março de 2012

O MORAL DA SEXTILHA


Xilogravura de Erivaldo

Lançada pela editora Global, a Antologia do Cordel Brasileiro reúne obras de clássicos e contemporâneos do gênero que atravessa bom momento no mercado editorial
Organizada pelo poeta Marco Haurélio, a Antologia do Cordel Brasileiro, lançada pela editora Global, compila 15 obras de autores brasileiros de diferentes épocas, desde textos de poetas do século XIX e começo do XX, até cordelistas contemporâneos nascidos entre 1956 e 1974 – entre estes últimos, além do próprio organizador baiano, estão incluídos os cearenses Klévisson Viana, Arievaldo Viana, Rouxinol do Rinaré e Evaristo Geraldo da Silva.

Quem abre a antologia é Leandro Gomes de Barros. Um dos maiores poetas populares do Brasil, considerado pela qualidade dos seus versos, a produção prolífica e o pioneirismo, Leandro nasceu em Pombal, na Paraíba, em 1865, e morreu em 1918 na capital pernambucana, depois de publicar uma série de clássicos em folhetos. A vida de Pedro Cem, Peleja de Manoel Riachão com o diabo e O cavalo que defecava dinheiro estão entre suas obras célebres.

Na antologia, o texto de Leandro incluído foi O soldado jogador, que conta a história de Ricarte, soldado francês apegado ao baralho que, ao ser preso acusado de jogar durante a missa, escapa do castigo com uma explicação divina para cada uma das cartas.

Há registros da história de Ricarte em outros países, como na Espanha e na Argentina. No Brasil, o folclorista Câmara Cascudo recolheu o conto no livro História Oral no Brasil, como informa na introdução o organizador.

O recurso de recontar histórias imemoriais é muito frequente entre os cordelistas e na antologia pode ser encontrada em outras obras mais recentes, como a escrita pelo cearense Klévisson Viana, 39, que assina Pedro Malasartes e o urubu adivinhão. A história – que também foi recolhida por Câmara Cascudo, desta vez no livro Contos Tradicionais do Brasil – chegou aos ouvidos de Klévisson ainda na infância. O fascínio pelos causos e a tradição familiar de produzir poetas fez do menino cordelista.

“O meu pai conta que o meu bisavô já era poeta e tinha um caderno de anotações. Ele escreveu inclusive um romance contando a história de um boi misterioso, tipo um boi mandingueiro. Ele sempre gostava de receber os amigos com uma glosa também. A mãe do meu pai era uma pessoa que gostava muito de literatura de cordel, tinha muitos folhetos em casa. E meu pai é um poeta que nunca publicou nada, mas ele tem um talento extraordinário”, conta Klévisson.

A linhagem não parou por aí. O irmão Arievaldo Viana também enveredou pelo cordel e publica na antologia O rico ganancioso e o pobre abestalhado. Os dois, naturais de Quixeramobim, figuram na obra ao lado de outra dupla de manos do Sertão Central: Rouxinol do Rinaré e Evaristo Geraldo da Silva - estes filhos de Quixadá.

“Vem desde infância. Não tinha televisão, né, a diversão era a leitura do cordel”, conta Antonio Carlos da Silva, o Rouxinol do Rinaré. O cordelista, que homenageia no nome artístico o pássaro de canto melodioso e sua terra, certa vez assumiu o papel do irmão mais velho de leitor e tomou gosto. Hoje, já publicou mais de 80 cordéis e cinco livros. Na antologia, assina O Reino da Torre de Ouro. O irmão mais novo, Evaristo, também está incluído com os versos de O Conde Mendigo e a Princesa Orgulhosa.

SERVIÇO

Antologia do Cordel Brasileiro
Organização: Marco Haurélio
Editora: Global
Páginas: 256
Preço: R$ 37

Texto: PEDRO ROCHA - Fonte: Vida & Arte (O POVO)