Conheça a história do ex-agropecuarista Robson Mendonça, que já emprestou mais de 4 mil livros a moradores de rua do Centro de São Paulo. "Carrego até 200 quilos de livros"
Vida Urbana - andrezza czech • Foto daniela toviansky - 12/12/2011
Robson Mendonça,“biciclotecário”,60 anos, seis meses de atividade
Eu era agropecuarista em Alegrete (RS) e há dez anos decidi vender tudo e vir para São Paulo.
Logo que cheguei, fui assaltado. Sem dinheiro ou documentos, virei morador de rua. Minha mulher e filhos vieram pouco depois, mas morreram num acidente de carro. Por causa da emergência, pedi para dar um telefonema num prédio público e fui proibido de entrar. Fiquei revoltado, juntei um pessoal de albergues e formamos um grupo para lutar pelos nossos direitos. Surgiu o Movimento Estadual da População em Situação de Rua, que ajuda a encaminhar os sem-teto a cursos e empregos. Só em 2011 tiramos 242 pessoas da rua.
Descobri que não conseguiria nada sem estudo. Tentava pegar livros em bibliotecas, mas não podia, porque não tinha comprovante de residência. Decidi que um dia criaria uma biblioteca itinerante que não exigisse nenhum cadastro. Quando conheci o Lincoln Paiva, presidente do Instituto Mobilidade Verde, enviei o projeto e eles viabilizaram a “bicicloteca”. Levo até 200 quilos de livros pelo Centro todos os dias, quase 300 obras! Temos cerca de 18 mil livros para ser emprestados e 90% dos leitores são moradores de rua.
Há dois meses a bicicloteca foi roubada durante uma reportagem. Descobri quem a levou e a polícia foi comigo buscar o triciclo, que precisou ser reformado. Vamos conseguir mais dez biciclotecas até o fim de 2012. Já conseguimos até um modelo elétrico que disponibiliza Wi-Fi e uma webcam, para cadastrar fotos dos moradores e ajudar as famílias a encontrá-los.
Hoje moro em uma pensão e leio bastante. Meu autor preferido é Mario de Andrade e o livro que mais marcou minha vida foi A revolução dos bichos, de George Orwell. Tenho lido muitos textos na área de Direito para aprender sobre jurisprudência e entender os casos da população de rua. Não acreditam que eu faço isso de graça. Um dia um rapaz da Praça da Sé disse que antes da bicicloteca ele e os colegas viviam bebendo cachaça e agora estão estudando. Quer pagamento maior que ver alguém aprender?
Fonte: http://epocasaopaulo.globo.com/vida-urbana/biciclotecario-o-homem-que-montou-uma-biblioteca-sobre-rodas/
Logo que cheguei, fui assaltado. Sem dinheiro ou documentos, virei morador de rua. Minha mulher e filhos vieram pouco depois, mas morreram num acidente de carro. Por causa da emergência, pedi para dar um telefonema num prédio público e fui proibido de entrar. Fiquei revoltado, juntei um pessoal de albergues e formamos um grupo para lutar pelos nossos direitos. Surgiu o Movimento Estadual da População em Situação de Rua, que ajuda a encaminhar os sem-teto a cursos e empregos. Só em 2011 tiramos 242 pessoas da rua.
Descobri que não conseguiria nada sem estudo. Tentava pegar livros em bibliotecas, mas não podia, porque não tinha comprovante de residência. Decidi que um dia criaria uma biblioteca itinerante que não exigisse nenhum cadastro. Quando conheci o Lincoln Paiva, presidente do Instituto Mobilidade Verde, enviei o projeto e eles viabilizaram a “bicicloteca”. Levo até 200 quilos de livros pelo Centro todos os dias, quase 300 obras! Temos cerca de 18 mil livros para ser emprestados e 90% dos leitores são moradores de rua.
Há dois meses a bicicloteca foi roubada durante uma reportagem. Descobri quem a levou e a polícia foi comigo buscar o triciclo, que precisou ser reformado. Vamos conseguir mais dez biciclotecas até o fim de 2012. Já conseguimos até um modelo elétrico que disponibiliza Wi-Fi e uma webcam, para cadastrar fotos dos moradores e ajudar as famílias a encontrá-los.
Hoje moro em uma pensão e leio bastante. Meu autor preferido é Mario de Andrade e o livro que mais marcou minha vida foi A revolução dos bichos, de George Orwell. Tenho lido muitos textos na área de Direito para aprender sobre jurisprudência e entender os casos da população de rua. Não acreditam que eu faço isso de graça. Um dia um rapaz da Praça da Sé disse que antes da bicicloteca ele e os colegas viviam bebendo cachaça e agora estão estudando. Quer pagamento maior que ver alguém aprender?
Fonte: http://epocasaopaulo.globo.com/vida-urbana/biciclotecario-o-homem-que-montou-uma-biblioteca-sobre-rodas/