sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CORDEL NO CARNAVAL CARIOCA


DEPOIS DA TV, CORDEL GANHA A MARQUÊS DE SAPUCAÍ




Dizem que no Brasil, tudo acaba em samba... Acabava! Agora acaba tudo em cordel. 90% dos encartes de lojas que circularam agora em junho aqui em Fortaleza usaram a gravura popular (de capas de folhetos) como principal ilustração. Até anuncios da TV seguiram a mesma trilha. 

É sempre bom ver a cultura nordestina em destaque, sendo reconhecida em outros recantos do país. Depois que a Rede Globo lançou a novela Cordel Encantado é a vez de uma grande escola de samba do Rio de Janeiro (a Acadêmicos do Salgueiro) aproveitar o tema para o desfile de 2012. No entanto, essa badalação enorme que se criou em torno da Literatura de Cordel às vezes me anima e às vezes me preocupa. Para quem lê cordel desde a infância e conhece essa arte como a palma da mão, tais manifestações às vezes soam falsas e meio pasteurizadas. A intenção pode ser boa, mas o cordel com a sinopse do tema, que irá inspirar os compositores na elaboração do samba-enredo da Acadêmicos do Salgueiro mistura, equivocadamente, o linguajar matuto (que não é utilizado pelo verdadeiro cordelista) com métrica claudicante e rimas duvidosas. É uma simbiose de Patativa do Assaré com o samba do crioulo doido. Passa é longe da arte de José Camelo de Melo, Leandro Gomes de Barros e José Pacheco da Rocha. Quantas vezes vou ter ainda que repertir que CORDEL é uma coisa e POESIA MATUTA é outra?

Sinceramente, versos como "um cadim de inspiração" doem no ouvido. E TROVA rimando com EUROPA é de fazer o velho Manoel D'Almeida Filho se remexer na tumba! Outra coisa, ví xilogravuras de J. Borges, Costa Leite, Dila e outros artistas compondo o cenário (que por sinal está belíssimo)... Será que esses artistas populares nordestinos receberam alguma coisa de direito autoral? Afinal de contas, o carnaval carioca é um negócio altamente lucrativo, que movimenta cifras astronômicas. Não custa nada deixar uma moedinha cair na cuia do ceguinho cantador de feira, não é mesmo?

Salgueiro 2012
(Cheio de poesia, imaginação e encantamento)

Minha "fia", meu senhor
Deixa eu me apresentar
Sou poeta e meu valor
Vai na avenida passar
Basta imaginação
Um "cadim" de inspiração
Que eu começo a versar

Vou cantar a minha arte
Que nasceu bem lá distante
Num lugar que hoje é parte
Da nossa origem errante
Vim das bandas da Europa
Nas feiras, a boa trova
Era demais importante!
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