Xilogravura : Carlos Henrique
CORDEL DE SAIA divulga homenagem prestada à poeta Dalinha Catunda feita pelos acadêmicos da Academia dos Cordelista do Crato – ACC. Josenir Lacerda, como de costume, feliz em suas composições, não deixou a desejar sobre a parceira de blog. Captou com muita sensibilidade a saga desta mulher valente, guerreira e que ultrapassou todas as dificuldades que a vida lhe apresentou, sem contudo curvar-se à adversidade, antes pelo contrário, retirou dela a energia e a inspiração para transformar a dor em prazer de poetar. Josenir Lacerda afirma a saga de Dalinha Catunda nos versos abaixo:
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Dalinha Catunda a Abelha do Sertão
1
Vieram me perguntar
Quem é mesmo essa Dalinha
Que tão faceira caminha
Sem no verso tropeçar
Que sabe tão bem falar
Com carinho e precisão
Das belezas do sertão
Empolgada e sem preguiça
Nossa saudade ela atiça
No forno do coração
2
Essa “cabôca” sem par
Respondo sem ter receio
É daqui do nosso meio
Digo sem medo de errar
Da cultura popular
É ferrenha protetora
É mestra e divulgadora
Enaltece o seu valor
Com zelo e com destemor
Do cordel é defensora
3
Em Ipueiras nascida
Na sua história mergulha
Da sua terra se orgulha
Fala dela comovida
É temática preferida
No verso e na poesia
Visita com alegria
O seu berço abençoado
Onde viveu no passado
E se dedica hoje em dia
4
É poeta cordelista
Com destaque no cenário
E no palco literário
Ela é protagonista
Não perde a cena de vista
Pois sabe como atuar
Nem precisa simular
O enredo lhe pertence
Essa brava cearense
Tem história pra contar
5
Para falar de Dalinha
Tem que falar de roçado
De floresta, rio e gado
Fogão de lenha e cozinha
Do baú na camarinha
Guardando sonho e segredo
Da chuva e do arvoredo
Emoldurando a paisagem
Do vaqueiro de coragem
Que enfrenta a vida sem medo
6
Tem que citar reza e fé
História de assombração
E o ribombar do trovão
No dia de São José
O canto do caboré
A cantiga do vim-vim
O orvalho do capim
Depois de fina garoa
Falar de cantiga e loa
Mel de engenho e alfenim
7
É a típica sertaneja
Tão criativa e prendada
Que do pouco ou quase nada
Retira o que ela deseja
Conquista tudo que almeja
Pela determinação
Busca sempre a solução
Com base no otimismo
Contorna qualquer abismo
Com fé, garra e devoção
8
Dalinha é flor agrestina
Sem laço com a primavera
É a certeza da espera
No sorriso de menina
É professora que ensina
A regra do bem viver
Sempre disposta a aprender
Retira a lição na dor
Na certeza que o amor
Sempre irá prevalecer
9
Posso dizer que ela é
Da mulher representante
Pois a postura garante
Da sertaneja de fé
Nadando contra a maré
Conquistou a calmaria
Hoje abriga a alegria
Dela faz repouso e leito
Tem no carisma e no jeito
A doçura de Maria
10
É esposa dedicada
Mãe amiga e exemplar
Porém sabe regular
Na hora necessitada
Pra ela, a palavra dada
Pode bater, mas não volta
Com o errado se revolta
Enfrenta pedra e espinho
Até achar o caminho
Achando, pega e não solta
11
Dalinha quando verseja
Não precisa de viola
O verso sai da cachola
Da forma que ela deseja
Feito um manjar na bandeja
Dourada da inspiração
Faz da rima refeição
Se der um tema ela aceita
Se o mote é fraco ela ajeita
Com seu toque de condão
12
É exímia cordelista
E ao cordel é dedicada
No verso sabe ser fada
No palco já é artista
No jornal e na revista
Sua foto eu avistei
Confesso que me orgulhei
Porque já sou sua fã
E um sentimento de irmã
Por ela sempre terei
13
Já ouvi ela falar
Que é abelha do sertão
Que faz mel, mas tem ferrão
Pra hora que precisar
Ela não sabe atacar
Mas sabe se defender
Se a marmota aparecer
Não corre, fica e enfrenta
A peleja ela agüenta
Até botar pra correr
14
Só quem conhece é que sabe
O valor dessa mulher
Que luta pelo que quer
Nem que a muralha desabe
Mas só entra onde lhe cabe
Porque tem discernimento
Escolhe a hora e o momento
O rumo e a direção
Porque só entra em ação
Pra garantir o evento
15
Modesta apresentação
Eu ousei oferecer
E quem quiser mais saber
Vai ter que entrar em ação
Buscar rumo e direção
A ela se dirigir
Então irá assistir
A um atraente relato
Enredo de sonho e fato
Que dá prazer de ouvir
16
Pois pra definir Dalinha
Carece mais que um cordel
Haja verso, haja papel
Pra falar dessa rainha
Mas no espaço que eu tinha
Dei meu singelo recado
O resto fica guardado
Nossa amizade é quem diz
Que ela seja bem feliz
E o seu lar abençoado
(Josenir Lacerda)
*
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Nos primórdios de nossa literatura, à mulher cabia o papel de musa – a bela mulher que inspirava a todos,como: mãe, esposa, e filha exemplar. Responsável pela condução do lar (a organização dos afazeres domésticos, à satisfação social do marido, a educação dos filhos, etc). Dalinha recusa-se a engrossar o caldo das musas passivas e objeto temático de poetas. Rompe fronteiras e quebra preconceitos e esteriótipos. Veja no poema abaixo:
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Sou assim...
Não peço licença à musa
Quando quero poetar.
Na hora que o santo arreia
Meto pau a registrar
Minha simples poesia,
Onde não vejo heresia
Em meu modo de atuar.
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Tenho dois nomes de santa,
Que me foi dado na pia.
O segundo é Lourdes
O primeiro é Maria.
Mas pra fugir desta linha
Preferi usar Dalinha,
Que é a cara desta cria.
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Da minha mãe eu herdei
O sobrenome Aragão,
O herdado de meu pai
Causa certa confusão
Mesmo rimando com bunda
Gosto do nome Catunda
E uso com satisfação.
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Não curto meias palavras
Meu pavio é meio curto,
Mesmo assim sou atinada
Por pouco, não entro em surto.
Não sou de mandar recado
Não sei o que é pecado
E de viver não me furto
(Dalinha Catunda)
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Sua coragem e generosidade são contagiantes, nos anima na busca de novos caminhos. Por esta razão me atrevo a dizer que Dalinha Catunda é o que os grandes menestréis identificam como poeta “musa cheia”.
Os versos que dedico a ela, fruto de sua generosidade são:
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Apresento para vocês
Uma Cobra bem criada
Versos de Dalinha são,
Pra ficar embasbacada
Seu humor é transbordante
E de forma apimentada
(Rosário Pinto)