SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Cientistas de todo o mundo estão participando de um boicote coletivo à Elsevier, a maior editora de periódicos científicos.
A
tacada veio de um dos matemáticos mais conceituados de hoje. Timothy
Gowers, da Universidade de Cambridge, sugeriu o boicote em seu blog, em
janeiro.
Do
outro lado do oceano, o também matemático Tyler Nylon, que fez
doutorado na Universidade de Nova York e hoje trabalha em uma empresa
que ele mesmo fundou, organizou um abaixo-assinado on-line contra a Elsevier.
O
documento já conta com quase 5.000 assinaturas de cientistas que, por
meio desse documento, se comprometem a parar de submeter seus trabalhos
às cerca de 2.000 publicações científicas da Elsevier, que edita títulos
como "Lancet" e "Cell".
O
motivo da revolta tem a ver com dinheiro. A Elsevier, assim como a
maioria das editoras científicas comerciais, cobra caro para publicar um
artigo aceito (após a chamada "revisão por pares") e também cobra pelo
acesso ao conteúdo dos periódicos.
Trocando em miúdos: os pesquisadores pagam para publicar e para ler as revistas científicas com seus artigos.
Na ponta do lápis, a matemática sai cara. O governo brasileiro, por
exemplo, gastou R$ 133 milhões em 2011 para que 326 instituições de
pesquisa do país tivessem acesso a mais de 31 mil periódicos científicos
comerciais.
Os
dados são da Capes (Portal de Periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que faz parte do
Ministério da Educação.
"Parece
que o movimento do livre acesso ao conhecimento científico deu um passo
importante com esse movimento internacional", afirma Rogério Meneghini.
Ele é coordenador do Scielo, uma base que reúne 230 periódicos científicos brasileiros com acesso aberto.
"Gowers tem uma medalha Fields, o que equivale a um 'Nobel' na matemática. Isso dá credibilidade", afirma Meneghini.
Editoria de arte/Folhapress | ||
CIÊNCIA FECHADA
Um
dos fatores que impulsionaram o crescimento do movimento contra a
Elsevier é o apoio que a empresa tem dado ao "Research Works Act", um
projeto de lei que tramita no Congresso dos EUA desde dezembro de 2011.
A iniciativa busca impedir que instituições de pesquisa divulguem gratuitamente os trabalhos de seus cientistas.
Se entrar em vigor, vai afetar os NIH (Institutos Nacionais de Saúde),
que têm a política de abrir o acesso aos estudos de seus cientistas.
O proponente original do projeto de lei é o deputado republicano Darrell
Issa, que tem como copatrocinadora a democrata Carolyn Maloney. A
Elsevier contribui para a campanha de ambos.
Maloney recebeu US$ 15.750 declarados entre 2009 e 2011, e Issa, US$ 2.000.
Segundo a ONG Maplight, a Elsevier desembolsou US$ 160 mil em campanhas eleitorais no período.
Colaborou RAFAEL GARCIA