quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Biblioteca Social Mundial


Enquanto não me animo a escrever especificamente sobre Tecnologias e Ciências da Informação, relato minha experiência como voluntário na organização da Biblioteca Social Mundial durante o Fórum Social Temático 2012, em Porto Alegre.

O que é a biblioteca?


Esta biblioteca surgiu em 2001 durante o primeiro Fórum Social Mundial através da campanha Mosaico de Livros, um projeto que visa a arrecadar material e atuar a favor da leitura, da diversidade cultural, do compartilhamento de conhecimento e da estimulação da consciência crítica. O crescimento de sua coleção se dá através de doações: todo visitante/participante dos Fóruns é convidado a deixar uma obra que julgue relevante e que esteja de acordo com a Carta de Princípios do Fórum — são aceitos livros, revistas, folhetos (e acredito que outras mídias também) em todos os idiomas. Ela é reconhecida pelo Ministério da Cultura do governo federal como um Ponto de Cultura desde 2005 (o que é um Ponto de Cultura?) e é atualmente apoiada pela Secretaria de Cultura do estado do Rio Grande do Sul. Após passar por vários prédios (aparentemente o acervo já esteve na Usina do Gasômetro e na sede da CUT), ela ganhou um novo espaço no andar térreo do Memorial do Rio Grande do Sul devido à sua (re)inauguração em 25 de janeiro de 2012. Como parte das festividades, também foi organizado o Sarau À Margem que, além de dar visiblidade à biblioteca, serviu de mote ao lançamento da edição especial do fanzine À Margem.
O site/blog do Ponto de Cultura Biblioteca do Fórum Social Mundial é http://pcbibliotecadoforumsocialmundial.blogspot.com/.



Sobre o trabalho de organização


Fui convidado pela Rosana Vasques, coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Rio Grande do Sul (SEBP-RS), a ajudar como voluntário na organização da biblioteca — o Fórum seria aberto dia 24 e a biblioteca seria inaugurada dia 25, e, portanto, havia pouquíssimo tempo hábil para o trabalho. Chamei alguns colegas para ajudar, mas apenas a Carol König teve condições de ir. Uma vez que a biblioteca não tem um responsável específico, assim como também havia passado por diversas instituições, os livros estavam bastante empoeirados, com tratamento técnico heterogêneo (alguns estavam identificados com carimbos, enquanto outros, não; alguns tinham bolso e ficha de empréstimo, outros, não) e havia materiais que não tratavam exatamente dos temas do fórum — como livros didáticos de física e química, provavelmente doados por engano.
Monique e Fernando no processo de triagem e higienização do acervo. (Foto de Rosana Vasques)

Ao chegar no local, era perceptível a quantidade de trabalho necessário: os livros estavam empilhados no chão e a primeira tarefa foi separar os itens identificados com carimbo dos sem carimbo, e higienizar superficialmente os que de fato seriam expostos. “Seriam expostos” porque, como o espaço reservado é pequeno e não havia estantes suficientes, foi optado por se fazer uma dupla triagem: remanejar os itens sem carimbo e, entre os carimbados, selecionar os que mais tivessem relação com os assuntos do Fórum Social Temático 2012 — crise capitalista, justiça social e ambiental. Estes seriam dispostos nas prateleiras e o restante, carimbado mas não relacionado diretamente ao tema, seria disponibilizado de forma mais artística. Ao mesmo tempo em que era feita esta triagem e higienização, também era pensado o layout da biblioteca: foi decidido que haveria três estantes, um sofá, um banco e um pufe, uma mesa com cadeiras e um móbile com frases de intelectuais relacionadas à temática do Fórum. Foi priorizado o espaço, proporcionando um ambiente para encontros e conversas, com acervo acessível e exposto criativamente. Contudo, como não se sabe ao certo sobre catálogo e livros de registro, foi optado por permitir apenas a consulta local às obras, e não o empréstimo domiciliar. Foi bastante necessária a ajuda dos responsáveis pelo Memorial do Rio Grande do Sul, Berenice Gonzales, diretora, e Alexandre Veiga, responsável pelo arquivo, que ofereceram mobiliário e materiais.
O trabalho foi cansativo, mas ocorreu tudo sem maiores percalços. A equipe foi composta pela Rosana Vasques e pela Giovana Draghetti, do SEBP-RS; pela Monique Vianna e pela Elisângela “Zanza” Gomes, estagiárias; e por mim, pela Carol König e Thalen Carvalho, voluntários.

Equipe de voluntários: Carol König, Thalen Carvalho, eu, Monique Vianna e Zanza Gomes (da esquerda). (Foto de Rosana Vasques)
Rosana Vasques, coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do RS.
Resultado e futuro da coleção
Vista da biblioteca quase pronta para inauguração, com sofá, banco, caminho e torre de livros. As estantes não aparecem na foto. (Foto de Rosana Vasques)

Com a biblioteca inaugurada, restam algumas questões a serem respondidas. Quem de fato se responsabilizará pelo acervo e pela sua manutenção; como será o plano de desenvolvimento da coleção (visto que a temática é abrangente e o crescimento se dará por doações); como será o acesso aos livros e opções para consulta ao catálogo; se a biblioteca oferecerá outros serviços relacionados à função prevista durante a sua fundação; como será a organização física do acervo, visto que o espaço disponível é pequeno…
Ao que tudo indica, a biblioteca permanecerá ligada lógica e economicamente ao Governo e não pareceu haver uma grande aproximação da coleção pelo Comitê Organizador do Fórum Social Mundial. O futuro do acervo e da biblioteca me parece incerta apesar de seu potencial como depositária da memória do evento e do seu valor como espaço de crítica social e cultural.
O portal G1 publicou, ainda, uma notícia sobre a reinauguração da biblioteca: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/01/biblioteca-social-mundial-resgata-historia-do-forum-em-porto-alegre.html.

Fonte:http://tci.fernandop.info/?p=363