quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Os motivos da falta de livros escolares


Por Beth Koike | De São Paulo

Quadros, da Abrelivros, editoras se baseiam nas demandas dos anos anteriores
Todo o início de ano a história se repete: faltam livros escolares nas livrarias. São raros os casos em que os clientes conseguem comprar todos os livros didáticos da lista de material escolar dos filhos em uma única livraria. Com isso, a maioria das pessoas cumpre uma via sacra visitando várias lojas.
Essa falta de livros não é consequência do aumento na demanda de alunos de colégios particulares. Isso porque há cerca de 20 anos o percentual da população brasileira que estuda em escolas privadas mantém-se na casa dos 10%.

O motivo central do problema é que as livrarias não querem correr o risco de ficar com encalhe de livros didáticos, que custam em média R$ 100, e podem não ser reaproveitados no ano seguinte, caso haja uma nova versão da obra ou as escolas não adotem o título.
Ao contrário dos livros de literatura, as obras escolares não são consignadas e apenas cerca de 10% do encalhe pode ser devolvido ou trocado. "Não dá para ter todo o acervo em estoque por causa dos prejuízos de encalhe. Uma livraria bem administrada fica com uma sobra de 7% a 8%. Mas o encalhe pode ficar entre 10% e 15%, aí dá prejuízo", explica Vítor Tavares, dono da Livrarias Loyola e ex-presidente da Associação Nacional das Livrarias (ANL). "A margem bruta dos didáticos é apertada, algo entre 25% e 30%, contra 40% e 50% dos livros de literatura. Então, é preciso administrar bem a compra", complementou Marcos Pedri, diretor da Livrarias Curitiba.
"Há uma diversidade de títulos e também não é fácil a logística de distribuição de livros em um país tão grande como o nosso. As vezes, enviamos vários títulos para um Estado, mas a demanda acontece em outra região", disse João Luís Hopp, diretor financeiro da Saraiva, que tem cerca de 100 lojas no Brasil e também tem uma editora.
Do lado das editoras, a grande dificuldade é mensurar com precisão quais livros serão adotados pelas escolas. Os colégios só divulgam as listas de livros no fim do ano, sobrando pouco tempo para impressão que é feita em grandes volumes. "As editoras se baseiam nas demandas dos anos anteriores. Além disso, há em média um estoque de 50% em relação ao volume total impresso", explicou Sergio Quadros, presidente da Abrelivros, associação que representa as editoras de livros didáticos e presidente da Moderna. "Pode haver falta de alguns títulos quando há um lançamento e a demanda é grande", complementou.
Nas editoras Ática e Scipione, da Abril Educação, alguns títulos são impressos em volumes dobrados. "Quando o livro tem potencial para ser usado nos anos seguintes, imprimimos para dois anos letivos. Assim, atendemos demandas extras e os gastos são menores. O custo de impressão em pequenas quantias é 20% superior", explicou Vera Balhestero, diretora-geral da Abril Educação.