Por Beth Koike | De São Paulo
Todo
o início de ano a história se repete: faltam livros escolares nas
livrarias. São raros os casos em que os clientes conseguem comprar todos
os livros didáticos da lista de material escolar dos filhos em uma
única livraria. Com isso, a maioria das pessoas cumpre uma via sacra
visitando várias lojas.
Essa
falta de livros não é consequência do aumento na demanda de alunos de
colégios particulares. Isso porque há cerca de 20 anos o percentual da
população brasileira que estuda em escolas privadas mantém-se na casa
dos 10%.
O
motivo central do problema é que as livrarias não querem correr o risco
de ficar com encalhe de livros didáticos, que custam em média R$ 100, e
podem não ser reaproveitados no ano seguinte, caso haja uma nova versão
da obra ou as escolas não adotem o título.
Ao
contrário dos livros de literatura, as obras escolares não são
consignadas e apenas cerca de 10% do encalhe pode ser devolvido ou
trocado. "Não dá para ter todo o acervo em estoque por causa dos
prejuízos de encalhe. Uma livraria bem administrada fica com uma sobra
de 7% a 8%. Mas o encalhe pode ficar entre 10% e 15%, aí dá prejuízo",
explica Vítor Tavares, dono da Livrarias Loyola e ex-presidente da
Associação Nacional das Livrarias (ANL). "A margem bruta dos didáticos é
apertada, algo entre 25% e 30%, contra 40% e 50% dos livros de
literatura. Então, é preciso administrar bem a compra", complementou
Marcos Pedri, diretor da Livrarias Curitiba.
"Há
uma diversidade de títulos e também não é fácil a logística de
distribuição de livros em um país tão grande como o nosso. As vezes,
enviamos vários títulos para um Estado, mas a demanda acontece em outra
região", disse João Luís Hopp, diretor financeiro da Saraiva, que tem
cerca de 100 lojas no Brasil e também tem uma editora.
Do
lado das editoras, a grande dificuldade é mensurar com precisão quais
livros serão adotados pelas escolas. Os colégios só divulgam as listas
de livros no fim do ano, sobrando pouco tempo para impressão que é feita
em grandes volumes. "As editoras se baseiam nas demandas dos anos
anteriores. Além disso, há em média um estoque de 50% em relação ao
volume total impresso", explicou Sergio Quadros, presidente da
Abrelivros, associação que representa as editoras de livros didáticos e
presidente da Moderna. "Pode haver falta de alguns títulos quando há um
lançamento e a demanda é grande", complementou.
Nas
editoras Ática e Scipione, da Abril Educação, alguns títulos são
impressos em volumes dobrados. "Quando o livro tem potencial para ser
usado nos anos seguintes, imprimimos para dois anos letivos. Assim,
atendemos demandas extras e os gastos são menores. O custo de impressão
em pequenas quantias é 20% superior", explicou Vera Balhestero,
diretora-geral da Abril Educação.