segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Dois centenários que se encontram no céu: LUIS GONZAGA e PATATIVA DO ASSARÉ



Patativa do Assaré [Silva, Antônio Gonçalves da]. A triste partida. Juazeiro do Norte: Univ. Reg. do Cariri - URCa : Vozes : Lira Nordestina, [190-]. 8 p.*


Neste mês em que proliferaram as homenagens ao nosso Rei do Baião, Luis Gonzaga, cabe lembrar um dos mais belos poemas para o qual emprestou a voz.
CORDEL DE SAIA traz à tona um dos mais belos poemas do Mestre Patativa do Assaré. Poeta que tão bem soube cantar as alegrias e dores do sertão Nordestino. A Triste Partida e ABC do Nordeste flagelado. O mesmo Nordeste que ilustrou a passagem de Patativa e de Luís Gonzaga, por mais de cem anos e, que ainda reclama – que a chuva não vem.


Passou-se setembro,
outubro e novembro
estamos em dezembro
meus Deus que é de nós?
Assim diz o pobre,
do seco Nordeste
com medo da peste
e da fome feroz
*
A treze do mês
fez experiência
perdeu sua crença
nas pedras de sal
com outra experiência
de novo se agarra
esperando a barra
do alegre Natal
(...)”

Silva, Antônio Gonçalves da. ABC do Nordeste flageladoJuazeiro do Norte: Secretaria de Cultura e Desporto de Juazeiro do Norte, [19--]. 16 p.

A – Ai como é duro viver
nos estados do Nordeste
quando nosso Pai Celeste
não manda a chuva chover.
É bem triste a gente ver
findar o mês de janeiro,
depois, findar fevereiro
e março também passar,
sem o inverno começar
no Nordeste brasileiro.
*
B – Berra o gado impaciente
reclamando o verde pasto,
desafigurado e arrasto
com o olhar de penitente.
O fazendeiro, descrente,
um jeito não pode dar,
o sol ardente a queimar
e o vento forte soprando,
a gente fica pensando
que o mundo vai se acabar.
*
C – Caminhando pelo espaço,
como trapos de um lençol,
p’ras bandas do pôr do sol,
as nuvens vão fracasso:
aqui e ali um pedaço
vagando... sempre vagando.
Quem estiver reparando
faz logo a comparação
de umas pastas de algodão,
que o vento vai carregando