LUIS GONZAGA - a homenagem de Maria do Rosário Lustosa
CORDEL DE SAIA traz para seus leitores a poesia de Maria do Rosário Lustosa, em homenagem a Luis Gonzaga:
Sua Majestade Luiz Gonzaga O Rei do Baião
*
Que a Deusa da poesia
Me dê a inspiração
É a quem peço licença
Pra fazer uma narração
Falando um pouco da saga
Do grande Luiz Gonzaga
O nosso Rei do Baião
Com seu jeitão nordestino
E linguagem universal
O seu Império ultrapassa
A érea nacional
Que a todos conquistou
E muito emocionou
De uma maneira geral
A vida de Gonzagão
Em dez livros não cabia
Imagine em um só cordel
Com certeza não daria
Me sentindo sufocada
E até encurralada
Vou começar a grafia
Pra começo de conversa
Veja esta narração
Que ele fez de repente
Em uma declaração
Pelos fazeres da lida
Do que foi a sua vida
Sem nenhuma acanhação:
“Meu nome é Luiz Gonzaga
Não sei se sou fraco ou forte
Só sei que, graças a Deus,
Té pra nascer tive sorte,
Apois nasci em Pernambuco
O famoso Leão do Norte.
Nas terras do Novo Exú
Na Fazenda Caiçara,
Em novecentos e doze,
Viu o mundo a minha cara.
No dia de Santa Luzia,
Por isso é que nasci Luiz,
No mês que Cristo nasceu
Por isso é que sou feliz.”
Assim falou o Rei Luiz
Com toda a sua euforia
Esta Grande Majestade
Do reinado da alegria
Que a todos agradou
Nas terras por onde andou
Cantando o que bem queria
(...)
Sobre a Autora
Maria do Rosário Lustosa da Cruz nasceu em Juazeiro do Norte, onde reside. Foi no Projeto SESC Cordel que iniciou sua caminhada de cordelista. É membro da Academia dos Cordelistas do Crato, cadeira nº 8, do Instituto Cultural do Vale Caririense, cadeira nº 3, sendo a atual Presidente; e da Sociedade dos Poetas de Barbalha. Ministra oficinas de Literatura de Cordel, com as quais conquistou prêmios, é muito atuante na cultura caririense. Publicou mais de cinquenta cordéis e os livros, “100 Anos de Juazeiro Registrados no Cordel” e , “38 Anos do ICVC,” em parceria com o Professor Renato Casimiro. Tem seus trabalhos publicados em livros, revistas e jornais.
Foto: colhida da internet
Foi filho com muito orgulho
De Santana e Januário
E deles Gonzaga herdou
O espírito comunitário
Que procurou ajudar
Sem jamais prejudicar
Quem cruzou o seu cenário
O patrimônio maior
Que o Gonzaga deixou
São seiscentos e vinte e cinco
Musicas que organizou
Em duzentos e sessenta e seis
Se tornou o maior dos Reis
Nos discos que ele gravou
De Exú pra Fortaleza
Foi pra terra da garoa
E no Rio de Janeiro
Ele morou numa boa
Com seu filho Gonzaguinha
E sua filha Rosinha
E sua Helena a patroa
Em novecentos e vinte
Começou o seu reinado
Foi no Rio de Janeiro
Que ele foi coroado
E como o Rei do Baião
Que cantou o seu sertão
Gonzaga é respeitado
A beleza da sua obra
O mundo inteiro ouviu
É eterno este reinado
Que Gonzaga construiu
Sua grandeza de vida
Feliz e também sofrida
Que entre nós conduziu
Fez com Humberto Teixeira
Uma grande parceria
Com Zédantas e Morcolino
Esteve em sintonia
Em musicas que semeou
Em tudo que ele gravou
No mundo da poesia
Uma sanfona um triângulo
Uma zabumba e um pandeiro
Seguiram a sua vida
De modo rústico e matreiro
Embalou sua alegria
Carregada de energia
Foi único sem ter parceiro
Luiz Gonzaga usava
Chapéu de couro e gibão
Bonita indumentária
Que ele herdou do sertão
Do seu Exú que amava
No tempo que frequentava
As festas de apartação
No cenário da poesia
E da musica popular
Xaxado, xote e baião
O primeiro a divulgar
Do folclore a riqueza
Da alma teve a grandeza
Que ele deixou no ar
No começo de sua vida
Gonzaga muito sofreu
O seu primeiro emprego
Que ele não escolheu
Como a primeira etapa
Foi nos cabarés da Lapa
Do Rio onde viveu
Com musicas e com piadas
Seu repertório montou
As ações dos governantes
O Rei Luiz criticou
Em todo show que ele fez
A todos ele satisfez
Por onde se apresentou
Luiz Gonzaga será
Para sempre eternizado
Como o maior sanfoneiro
Que foi muito apaixonado
Pelo Nordeste querido
De povo bom e sofrido
Que nunca deixou de lado
“A Volta da Asa Branca”
Na “Fogueira de São João”
“Aquilo bom”“Na Emenda”
Na“Corrida de Mourão”
“Tem a Morte do Vaqueiro”
E a“Mulher do Sanfoneiro”
Com “A Mulher do meu Patrão”
A sua obra traduz
A vida de sua gente
A alegria e esperança
Que o deixava contente
Mostrando a bela história
De toda uma trajetória
Que ele fez diferente
Luiz Gonzaga cantou
A vida de Lampião
O Juazeiro do Norte
E Padre Cícero Romão
Cantou a paz e o amor
E da saudade a dor
Que tinha no coração
Lá no Rio de Janeiro
Campeã se consagrou
A Unidos da Tijuca
Do carnaval que passou
Na avenida cantando
Mostrou o sertão sambando
Que seu Luiz inventou
Por seu filho Gonzaguinha
Sempre teve grande amor
Elba e Raimundo Fágner
Foram amigos sim senhor
Dominguinhos o sanfoneiro
Seu velho amigo guerreiro
É o seu maior seguidor
Numa grande Sociedade
Luiz Gonzaga viveu
Como feliz operário
Ele sempre obedeceu
Está na Acácia Amarela
Composição muito bela
Musica que ele escreveu
“O Grande Arquiteto do Universo”
Na musica citou também
“É harmonia, é concórdia”
E ele assegura que tem
Uma casa justa e perfeita
Que ele chamou direita
Onde se sentia bem
Ao Cratinho de açúcar
Luiz Gonzaga amou
Por lá fez muitos amigos
E a todos respeitou
Alguns estão declarados
Com seus nomes registrados
Nas musicas que ele gravou
O seu ultimo desejo
Foi de poder visitar
O Juazeiro e o Crato
Quando ele fosse passar
Para Exú viajando
Em ultimo adeus acenando
Para poder se enterrar
A este simples pedido
O seu filho protestou
Foi nosso Padre Murilo
Quem logo determinou
Com precisão e sem erro
No dia de seu enterro
Quando seu corpo chegou
No Juazeiro e no Crato
Ele foi homenageado
Para a última morada
Muito bem acompanhado
Foi um dia de tristeza
E seu Luiz com certeza
Pra sempre será lembrado.
Juazeiro do Norte, Dezembro de 2012