sábado, 17 de novembro de 2012

Cordel não é folclore


Como diz na entrevista a seguir, o professor e poeta Aderaldo Luciano, autor de O auto de Zé Limeira (2008), vem pesquisando o cordel há 20 anos. Em 2007, ele defendeu na UFRJ a tese de doutorado “Literatura de Cordel: visão e revisão”, orientada pela professora e escritora Helena Parente Cunha.

Desde então, o autor vem ministrando aulas e apresentações públicas onde apresenta uma “narrativa” entremeada de figurações da cultura sertaneja e cenas urbanas, com uma metodologia repleta de informação e humor, na tradição da aula-espetáculo de Ariano Suassuna.

Seguindo a trilha aberta por M Cavalcanti Proença que lê os aspectos literários do cordel, a pesquisa de Aderaldo elege a linguagem como um dos principais “personagens” desta literatura. Ele traça uma espécie de recepção crítica desta forma literária, e critica a maioria dos estudiosos e pesquisadores da historiografia do cordel.

Esta crítica tem como base os aspectos folclóricos e culturais dos antigos estudos e pesquisas, em detrimento dos elementos literários que esta pesquisa busca priorizar. A seguir, a fala deste leitor de Câmara Cascudo e Augusto dos Anjos, que traz para o campo da linguagem a especificidade do cordel, e acredita no seu “caráter literário”.

1 - Aderaldo, por que o cordel em pleno século XXI?

O cordel é a única forma poética genuinamente brasileira. Todas as escolas literárias passaram e o cordel continua. É como o soneto: não tem idade e é sempre vanguarda. Infelizmente nunca recebeu o tratamento merecido. Com os deslocamentos do eixo cultural e as mudanças sociais vigentes neste século, o olhar sobre o cordel também migrará. Há 20 anos venho me preparando para isso. Agora é hora.

2 - Quais são os autores mais representativos do cordel no Brasil?

Da Geração Princesa, a pioneira, temos Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima, João Martins de Athayde e Francisco das Chagas Batista. Da Geração Prometida, a intermediária, que ofereceu permanência ao cordel: José Camelo de Melo Resende, Delarme Monteiro, José Pacheco, Antonio Teodoro dos Santos e Manoel D'Almeida Filho. Da Geração Coroada: João Firmino Cabral, Bule-Bule, Manoel Monteiro, Antonio Américo de Medeiros e Azulão. A Geração Celebrante, esta que aí está segurando o bastão e fazendo fé na coroa, aprendeu com os mestres e está trilhando o bom caminho, mas ainda está sob observação.

3 - O que diferencia este seu novo livro da História do Cordel Brasileiro de 2011?

No título do meu livro está escrita a palavra "Crítica". Isso é o diferencial: pela primeira vez fazemos a crítica de tudo que foi dito e anotado sobre o cordel e refutamos a maioria das informações, por exemplo: o cordel brasileiro não é o mesmo cordel de Portugal, há apenas uma ligação em sua forma física e em alguns temas, mas temos uma autonomia poética decisiva; o cordel não é o aspecto escrito da poesia oral dos cantadores repentistas. Dialoga, mas se afasta; o cordel não é uma poesia dita sertaneja: é um misto de ruralidade e urbanidade. Embora alguns autores venham do sertão, é no brejo e nas cidades onde ele se consolida; O cordel não é folclore: tem data e autoria; as xilogravuras que ilustram algumas capas de folhetos não são sinônimo de cordel. São um acidente de percurso. A maioria dos cordéis não são ilustrados com xilogravura. É um "mito" que engravidou vários "estudiosos".

É isso, caboclo.