quinta-feira, 5 de abril de 2012

A vida de Jesus na Literatura de Cordel



O trabalho a seguir é um dos textos mais inspirados sobre a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi concluído em 1966, pelo grande poeta DIMAS BATISTA:

JESUS, FILHO DE MARIA

I PARTE - A INFÂNCIA DO SALVADOR

Autor: Dimas Batista
Dedicado à Silvestre Alves da Silva
Trabalho concluído em 17 de abril de 1966

Ó sagrada onipotência
Dá-me inspiração dileta,
Pois sou um pobre poeta
Despido de inteligência.
Muito embora sem ciência
De História ou Teologia,
Pretendo, em fraca poesia,
Descrever todo o passado
Do Santo Verbo Encarnado
Jesus, Filho de Maria!

Quatro Evangelhos no mundo
Firmados na lei de Deus,
Primeiro, o de São Mateus,
De São Marcos, o segundo,
Sendo o terceiro, profundo,
Que São Lucas anuncia,
O quarto tem primazia,
Foi escrito por São João,
Que amava de coração
Jesus, Filho de Maria!


Uma Virgem Soberana,
Natural de Nazaré,
Esposa de São José, 
Filha de Joaquim e Ana;
Dentre toda a raça humana,
Sendo Virgem, Pura e Pia,
Por Deus, escolhida, havia,
De ser a Mãe de Jesus,
Futuro mártir da cruz,
Jesus, Filho de Maria!


Entre os hebreus consagrados
Essas coisas foram ditas,
Nas verdades infinitas
Dos profetas inspirados!
Há muitos anos passados,
Afirmava a profecia,
Que, lá dos céus, desceria
Pra remir o mundo inteiro,
O Sacrossanto Cordeiro
Jesus, Filho de Maria!


Vindo da Santa Mansão
Gabriel desceu do espaço,
A vinte e cinco de março,
Dia da Anunciação!
Fez o anjo a saudação:
“Bendita és tu, Virgem Pia,
Deus a dizer-te, me envia,
Que, em teu ventre imaculado,
Gerar-se-á, sem pecado, 
Jesus, Filho de Maria!


Guardar sempre a virgindade
Maria a Deus prometeu
São José, esposo  seu,
Também jurou castidade!
Mas a virgem de bondade
Que, santamente, vivia,
Dessa forma concebia
Por obra do Espírito Santo
Gerado estava, portanto,
Jesus, Filho de Maria!

Depois disso, nas montanhas,
A Santa Esposa Fiel
Foi visitar Isabel,
Já com Jesus nas entranhas
Chegando, foram tamanhas,
As sensações de alegria,
Que Isabel estremecia,
Vendo a mãe do Deus menino,
Bendito, Verbo Divino,
Jesus, Filho de Maria!


Dessa visita que fez,
Com três meses, regressava,
E, n’Ela, já se notava
Sintomas de gravidez!
Faltavam, no entanto, seis
Meses pra chegar o dia,
Em que d’Ela nasceria
Repleto de Luz e Fé,
Sem ser filho de José,
Jesus, Filho de Maria!


José encheu-se de espanto
Vendo Maria pejada!
E, ali sem dizer nada,
Ficou triste o esposo santo!
O seu ciúme foi tanto,
Que nem de noite dormia,
Pois São José não sabia
Desse mistério divino,
Que era gerado o menino
Jesus, Filho de Maria!


Assim, planejou, ciumento,
Sua esposa abandonar!
Mas veio um anjo avisar:
“ – José, não sejas violento;
Não faças mau pensamento,
Nem sofras melancolia:
Pois Deus mesmo é quem confia,
Dela, o mistério profundo,
Do qual surgirá, no mundo,
Jesus, Filho de Maria!


José, depois de avisado
Pelo enviado bendito,
Ficou triste  muito aflito
Por ter, assim, censurado!
Indo viver consolado
Com divina regalia,
Pois, agora, conhecia,
Que a divina esposa virgem
Concebeu, por santa origem
Jesus, Filho de Maria!


César Augusto, o soberano,
Decretou, com fundamento,
Um geral recenseamento
Do grande império romano.
E, naquele mesmo ano
Esse édito se cumpria;
São José, que não sabia, 
Foi lá, cumprir seu dever,
Onde havia de nascer
Jesus, Filho de Maria!


Maria fez a viagem
Para se recensear,
Já perto de descansar,
Ninguém lhe dava hospedagem!
São José fez estalagem
Numa pobre estrebaria,
Nessa humilde hospedaria,
Cheia de paz e pureza,
Nasceu, em  plena pobreza,
Jesus, Filho de Maria!


Naquela gruta singela
Tão pobre, humilde e serena,
A Virgem Mãe nazarena
Deu à luz, ficou donzela,
São José, pertinho dela,
Imenso gosto sentia;
Enquanto alegre, sorria,
Na mais divina ternura,
Nos braços da Virgem pura
Jesus, Filho de Maria!


Os três magos do Oriente
Vieram adorar Jesus,
Guiados por uma luz
Duma estrela refulgente.
O astro pairando em frente,
Da escura gruta sombria,
Os Magos viram que havia,
De palha, um berço, no centro,
Onde, alegre, estava dentro,
Jesus, Filho de Maria!


Herodes foi informado
De haver, no reino, nascido,
O Messias Prometido,
O Salvador desejado!
E os Magos tendo chegado,
Herodes que os percebia,
Disse, fingindo alegria:
“Ide e vinde me informar,
Quero também adorar
Jesus, Filho de Maria!”


Quando os três Magos chegaram
Fizeram do seu tesouro,
O incenso, a mirra, o ouro,
Como oferta consagraram,
Prostrados, O adoraram,
Cheios de gosto e alegria;
Iam voltar no outro dia,
Com a glória de terem visto,
Rei Santo, Sagrado, Cristo,
Jesus, Filho de Maria!


Herodes fez mau juízo
De assassinar a criança;
Da projetada vingança,
Os Magos tiveram aviso.
Uma voz do Paraíso,
Aos três, em sonho, dizia:
“Regressai por outra via,
Que Herodes, pra se vingar,
Tem pretensão de matar
Jesus, Filho de Maria!”


Indo os Magos de regresso
Por caminho diferente,
Herodes, ao ser ciente,
De raiva ficou possesso!
E decretou, por excesso,
De bruta selvageria,
A morte dura e sombria
Das crianças de Belém,
A fim de matar também
Jesus, Filho de Maria!

Mas, por um anjo, foi dito,
Que por decreto divino,
José, Maria e o menino
Fugissem para o Egito.
Que Herodes, rei maldito,
Matar Jesus pretendia!
São José, em companhia
De sua fiel consorte,
Fugiu, livrando da morte,
Jesus, Filho de Maria!

Lá no Egito altaneiro,
Nação mui celebrizada,
Teve a Família Sagrada
Seu refúgio hospitaleiro,
Junto ao Nilo prazenteiro,
Gigante d’água bravia,
Que goza a supremacia
Doutros rios africanos,
Onde viveu sete anos,
Jesus, Filho de Maria!


São José já regressava,
Maria e Jesus também,
Não para Jerusalém,
Onde Arquelau dominava!
Pois esse príncipe odiava
Tudo que a Deus pertencia,
E, por isso, poderia,
Querer perseguir os três
Ou mesmo, matar, talvez
Jesus, Filho de Maria!


Jesus, Maria e José
Por ordem da Providência,
Fixaram residência
Numa casa, em Nazaré.
Viviam cheios de fé,
De paz, de amor, de harmonia;
A Luz da Sabedoria
Divina multiplicava
Mais a mais, iluminava,
Jesus, Filho de Maria!


São José, bom carpinteiro,
Trabalhava a toda hora;
Lutava Nossa Senhora
No seu serviço caseiro!
No tear o dia inteiro,
Belas túnicas tecia;
Diariamente se via,
Na tenda de Nazaré,
Ajudando a São José,
Jesus, Filho de Maria!


Com sábios e professores,
Certa vez, Jesus, no templo,
Do seu saber deu exemplo,
Discutindo com os doutores!
Calaram-se os demais senhores
E o povo, abismado, ouvia,
Frases de sabedoria
Jorravam dos lábios d’Ele,
Doze anos tinha Aquele
Jesus, Filho de Maria!

(...)


Dimas Batista Patriota, nasceu no ano de 1921, na então Vila Umburanas, município de São José do Egito, hoje cidade de Itapetim-PE. Filho de Raimundo Joaquim Patriota e Severina Batista Patriota ambos paraibanos. Dotado de uma intelência Privilegiada, aos cinqüenta anos de idade, formou-se em letras clássicas na mesma faculdade de onde seria professor de língua portuguesa. Era considerado o cantador mais culto de todos os tempos. Além de repentista renomeado, era historiador geógrafo e poliglota. Dimas fez a sua primeira cantoria aos quinze anos de idade, na cidade de São José do Egito. Faleceu em Fortaleza em 1986, vítima de acidente vascular cerebral; sepultou-se em tabuleiro do Norte, local onde residia. Obras: Jesus Filho de Maria; História da CNEC (Em versos); As Três cruzes;Desafio (Dimas e Cabeleira)”