Por Cesar Baima
RIO – O conhecimento move o mundo, mas muitas vezes o acesso a ele está impedido por barreiras como as chamadas paywalls, que restringem o acesso à íntegra de estudos publicados em alguns dos principais periódicos científicos do mundo, como as revistas “Science” e “Nature”, apenas para assinantes. Nos últimos anos, no entanto, cresce a adesão de algumas das maiores instituições de ensino e pesquisa do planeta ao livre acesso, com a criação de repositórios digitais com o conteúdo completo de artigos inéditos ou já publicados nestes periódicos.
Desde a última terça-feira a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tornou-se a primeira grande instituição brasileira a se juntar a esse movimento – do qual fazem parte nomes como as universidades de Harvard e Cornell e o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), nos EUA -, com a entrada em vigor de portaria assinada pelo seu diretor, Antônio Ivo de Carvalho. Pelos termos da iniciativa, pesquisadores, docentes, discentes, funcionários, colaboradores, contratados e demais pessoas vinculadas à escola devem arquivar no repositório da instituição um arquivo completo dos textos e estudos que produzirem, além de cederem os direitos para sua divulgação, tradução e uso não comercial.
- Assim, qualquer pesquisador de outra instituição em qualquer parte do mundo vai poder usar este conhecimento e agregá-lo a suas próprias pesquisas – diz Carvalho. – Nossa ideia não é competir com as formas de publicação tradicionais, como livros e periódicos, nem nos apropriar do trabalho dos pesquisadores, mas sim dar mais visibilidade e democratizar o conhecimento. A ciência se desenvolve com esta construção, como (Isaac) Newton e o ombro de gigantes. Mas se antes o diálogo entre os cientistas se dava por carta, hoje as novas tecnologias dão uma escala e abrangência maior para essa troca.
Segundo Carvalho, o movimento mundial de livre acesso ao conhecimento teve seu início em uma conferência realizada em Budapeste, capital da Hungria, em 2001. Então, havia cerca de 200 repositórios do tipo espalhados pelo planeta. Hoje, conta, são 2199, dez vezes mais, aos quais a ENSP está se juntando. Além das pesquisas da escola, o repositório abrigará todo o material educacional produzidos e usados pelos professores nas aulas, assim como o desenvolvido pela sua área de educação à distância, pesquisas ainda não finalizadas e vídeos e áudios das apresentações e palestras proferidas na instituição por especialistas convidados nacionais e estrangeiros.
- Queremos dar uma virada no esforço científico brasileiro tanto na pesquisa quanto no ensino, para que o conhecimento possa servir à sociedade como um todo – defende. – Estamos entrando em um movimento pela universalização do saber. O conhecimento não pode servir apenas a interesses particulares.
De acordo com Carvalho, a ENSP é apenas a primeira unidade da Fiocruz a liberar o acesso à sua produção para pesquisadores e o público em geral. Até o fim do ano, outros setores da fundação, como o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), deverão seguir o mesmo caminho e abrir seus arquivos para consulta.
Fonte: http://blog.crb6.org.br/