Lucilane e Carmelita
A VIDA DE UM VAQUEIRO VALENTE
OU A VAQUEJADA NO CÉU
Autor: Lucas Evangelista
Sou um poeta que vive
da poesia somente
porém gosto d'uma história
versada em alta patente
versada em alta patente
que se vê moça bonita
casar com rapaz valente.
Para quem gosta de luta
de ver a palha voar
penetre neste meu livro
que daqui pra terminar
se sabe como um rapaz
tem estética pra brigar.
Dando volta na memória
vou traçar em poesia
um romance destacado
que todo mundo aprecia
a história de um vaqueiro
que passou-se na Bahia.
Chamava-se Lucilane
o leitor bem compreenda
pois ele desde menino
já nasceu de encomenda
pra montar cavalo brabo
e trabalhar em fazenda.
Logo desde criancinha
Seu pai lhe deu a um senhor
A um cidadão ricaço
Por nome João Salvador
Tinha diversas fazendas
Era grande agricultor.
Em cada fazenda ele
Apoiava cangaceiro
Apreciava na vida
Moça bonita e dinheiro
Cavalo de campear
Homem valente e vaqueiro.
Quando o pai de Lucilane
Foi o menino entregar
Disse: - Seu João, cuidado
Pois eu vou lhe avisar
Que meu filho é impossível
De ninguém lhe aguentar.
O velho disse: - O garoto
Tem traços de valentão
Vou criá-lo com cuidado
Quando ficar rapagão
Quero ver se ele presta
Para pegar barbatão.
E começou o menino
No traquejo muito cedo
Tinha muito amor a gado
Campeando no degredo
Nunca temia a visão
Nem de nada tinha medo.
Ele só tinha um defeito
Nunca gostou de amigo
Menino nas unhas dele
Corria grande perigo
Dava num, batia noutro,
Que parecia um castigo.
O Major tinha uma filha
por nome de Carmelita
Contava dezesseis anos
era uma moça bonita
além de ser filha única
era fidalga e bendita.
Vou comparar pelo mínimo
Sua beleza em meu tema
Embora que seja fraco
Para expressá-la em poema
Pois era muito mais linda
Que as atrizes do cinema.
Os olhos acastanhados
E as faces cor de rosa
Entre as moças camponesas
Ela era a mais formosa
Mesmo sem usar perfume
Carmelita era cheirosa.
Tinha o coração fechado
Pois nunca amara a ninguém
Mas quando viu Lucilane
Começou lhe querer bem
E o menino gostava
De Carmelita também.
(...)
Trabalho com a venda de cordéis há quase 15 anos. Em todos os lugares por onde tenho passado ouço as pessoas comentarem a respeito desse poema de Lucas Evangelista. Na década de 70, muitas crianças foram batizadas com o nome de Lucilane em homenagem ao personagem central desse romance. O autor vendeu os direitos autorais ao editor Benedito Antonio de Matos, que imagino já ser falecido. Por isso o romance não vem sendo reeditado há pelo menos 30 anos. Trata-se, sem dúvidas, de um clássico da Literatura de Cordel.