Não seria ótimo e mais coerente se o trabalho
de pesquisa científica realizado a partir de financiamento público fosse
“devolvido” à população em forma de acesso gratuito? Pois é, pelo menos na
Inglaterra isso já está em andamento. Depois da internet a maior novidade dos
tempos será a disponibilização gratuita da
pesquisa científica feita a partir de financiamento público, até
2014. A novidade é tão boa que vamos reforçar: A ideia é que trabalhos de
pesquisa, que praticamente são pagos pelo contribuinte britânico, estejam
disponíveis gratuitamente na internet para universidades, empresas e indivíduos
que pretendam utilizar para qualquer finalidade, onde quer que estejam no
mundo.
David
Willetts, o sombra do Secretário de Estado da Inovação,
Universidades e Habilidades na Inglaterra, em uma entrevista com o Guardian,
disse que espera uma transformação completa e benefícios maciços para a educação
aberta ao longo dos próximos dois anos. A mudança reflete uma onda de apoio para
o "acesso aberto" de publicações entre os acadêmicos que há muito tempo
protestam que os editores de revistas lucram enormemente, bloqueando o acesso a
pesquisa por trás de paywalls online. "Se o contribuinte pagou por esta
pesquisa para acontecer, então o trabalho não deve ser colocado atrás de um
paywall antes de um cidadão britânico poder lê-lo", disse Willett.
David Willetts |
Esse processo levará um tempo e custará uma
quantidade razoável de investimento utilizado dos próprios fundos do orçamento
da ciência, cerca de 50 libras por ano. No entanto, as universidades pagam
atualmente cerca de 200 libras por ano com assinaturas de revistas. Sob o novo
sistema as universidades irão pagar em torno de £ 2.000 por artigo.
É uma
mudança que vai lidar com muitos fatores positivos, negativos e incertos, como
por exemplo:
• Apesar
do forte investimento financeiro do início que representará um desfalque no
orçamento científico, a previsão futura é de economia.
• A
iniciativa é um banho gelado para editores e associações culturais que vivem da
venda das assinaturas de revistas.
• Ao
fazer tal movimento no sentido de acesso aberto antes de outros países, a
Grã-Bretanha (que produz apenas 6% da pesquisa mundial) estará dando a sua
investigação de graça, mas ainda precisará pagar pelo acesso a artigos de outros
países.
• Já
existe iniciativa semelhante nos Estados Unidos, no National Institutes of
Health.
• Existe
o risco de a Grã-Bretanha perder projetos de pesquisa enquanto ocorre essa
transição incerta com a publicação de acesso aberto.
Clovis
Ricardo Montenegro de Lima e Rose
Marie Santini Oliveira, no III Congresso Online – Observatório para a
CiberSociedade: conhecimento aberto sociedade livre de 2006,
refletiram que "o compartilhamento
de informações é uma forma privilegiada de interação social, que possibilita a
construção de modos de organização inteligentes e generosos, e modos de produção
que podem não depender dos interesses mediadores do capitalismo. O código aberto
dos softwares livres é um exemplo de relação social produtiva, na qual a
informação e o conhecimento podem ser produzidos, disseminados e usados de modo
compartilhado. A combinação do
código aberto com as licenças criativas garante que o processo de produção
colaborativa não se interrompa com a apropriação privada dos seus produtos.
Cria-se uma densa esfera de domínio
público. As formas colaborativas de produção podem derivar da
cooperação imanente ao trabalho imaterial em rede. Estas colaborações são
particularmente importantes para a singularização da subjetividade e a produção
de modos autônomos de vida".
Stevan Harnad,
professor de eletrônica e ciência da computação na Southampton University, disse
que o governo estava enfrentando uma conta cara no apoio ao acesso aberto de
ouro sobre o modelo de acesso aberto verde. Ele disse que universidades e
financiadores de pesquisa tinham sido os líderes mundiais no movimento rumo ao
acesso "verde" aberto que requer pesquisadores de auto-arquivamento de seus
artigos de revistas na web, e torná-los livres para todos. As recomendações do
Comité do professor Dame Janet Finch,
um sociólogo da Universidade de Manchester, olham superficialmente como se
estivesse apoiando o acesso aberto, mas na realidade eles são muito
preconceituosos em favor dos interesses da indústria editorial sobre os
interesses de pesquisa no Reino Unido". Interesses econômicos versus
conhecimento e liberdade. Quem vai ganhar?