Espaços localizados em pontos de ônibus na área central de Brasília incentivam a cultura e promovem o hábito da leitura
T TATIANE ALVES
tsantana@jornaldacomunidade.com.br Redação Jornal da Comunidade
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Foto: Brito/CedocKaique Vieira aproveitou para colocar a leitura em dia numa estação cultural
As estantes a céu aberto nas paradas de ônibus da avenida W3 Norte, recentemente batizadas de Estações Culturais, completam, na próxima semana, cinco anos de existência. O criador do projeto é Luiz Amorim, proprietário do Açougue Cultural T-Bone. O nome já diz, é um açougue. Mas, ao contrário dos outros estabelecimentos do gênero, que se limitam a vender carne, este tem uma biblioteca.“É um grande prazer poder comemorar mais um ano desse projeto que leva todos os dias um pouco de cultura e incentivo e, acima de tudo, promove a democratização da leitura”, conta Luiz Amorim.
Atualmente são mais de 24 mil títulos e 36 paradas de ônibus com bibliotecas em toda W3 Norte. A manutenção é feita pelo próprio Luiz com a ajuda de três pessoas. Por dia, ele diz, todas as estações emprestam mil livros. Tanto o empréstimo como a devolução são respeitadas pelo público. “Eles não só respeitam a devolução, como também doam livros”, conta.
Inclusão digital – Os espaços também promovem a inclusão digital, por meio de internet livre. “O projeto é interessante, principalmente para as pessoas que não gostam de ler. De tanto olhar e ver os livros na prateleira, uma hora essas pessoas vão acabar se rendendo aos encantos da leitura”, acredita Dayana Bento de Souza, que foi para uma entrevista de emprego na W3 Norte e não resistiu aos livros.
Pessoas que frequentam as paradas para se locomoverem aos seus trabalhos ou outros afazeres parabenizam o projeto. “Além de uma inclusão social, é uma inclusão digital”, destaca Eduardo Martins, que não só acessa a internet, como também sempre leva um livro para ler.
Despertando a curiosidade de todos
O incentivo à leitura pode ser comprovado por cada pessoa que passa pelas paradas da W3 Norte. Kaique Vieira, 16 anos, trabalha como operador de triagem e sempre que passa por uma Estação Cultural, aproveita para ler algum livro. “Esse projeto é de extrema importância, incentiva a criar o hábito pela leitura”, avalia.
Thalita Lorrane, 15 anos, revela que a leitura não é uma de seus hábitos, mas quando está em uma das estações aproveita para “dá uma olhadinha nos livros, de vez em quando”. Thiago Souza mora em Planaltina, estava à procura de emprego no Plano Piloto, quando passou por uma das estações. O rapaz conta que a ideia é ótima, porém sente falta de obras mais atualizadas.
Celebração em grande estilo
O projeto que criou as bibliotecas populares nas paradas de ônibus na W3 Norte foi criado em 26 de julho de 2007 e o açougue cultural T-Bone existe desde 1994. A comemoração de aniversário, na próxima quinta-feira (26), começa às 19h em grande estilo. Entre as atrações, terá apresentação de recital, poesia e muita música.
Para prestigiar o evento a coordenação do T-Bone contará com a presença dos poetas Nicolas Behr, Vicente Sá, Fabrízio Morelo, Paulo José Cunha, a poetisa Amneres, e todos integrantes do Movimento Viva Arte. Haverá ainda, a apresentação do cantor e compositor Renato Matos, conhecido como o pai do reggae de Brasília, e a participação do mímico e ator Miquéias Paz. O Açougue Cultural T-Bone fica na Asa Norte (SCLN 312 - bloco B). Informações: www.t-bone.org.br.
Outros projetos promovidos
O Açougue Cultural T-Bone também promove outros projetos: a Noite Cultural e as Quintas Culturais. O primeiro projeto é realizado duas vezes por ano – uma apresentação por semestre – desde 1998. Em 2003, o evento entrou para o Calendário Cultural Oficial do Distrito Federal.
Já a Quinta Cultural é uma atividade de inclusão social por meio do incentivo à cultura, à literatura e à comunidade brasiliense. Cada edição tem formato de sarau, com a participação de cantores/bandas nacionais e locais, escritores da cidade, apresentação de teatro de bonecos, bate-papo literário e também recital de poesias, de grupos ou poetas brasilienses. As atividades são realizadas às quintas-feiras, das 18 horas às 23 horas, em frente ao espaço do Açougue Cultural T-Bone.
Como surgiu
Luiz Amorim, criador do projeto, começou a trabalhar cedo. Aos 16 anos, quando foi alfabetizado, o primeiro livro que Luiz leu foi um gibi de filosofia de Karl Marx. Com o passar dos anos, ele juntou suas economias e conseguiu comprar o açougue, passando de funcionário para dono.
O projeto teve início em 1994, quando conseguiu comprar o açougue em que trabalhava. No começo a biblioteca era apenas uma prateleira com dez livros para emprestar aos clientes, enquanto aguardavam a mercadoria. O projeto se transformou em referência para Brasília, e foi rebatizado de Estação Cultural.
Luiz criou a biblioteca com um único objetivo: incentivar e democratizar a leitura, uma vez que, por meio dela, passou a ter outra visão de mundo. “A finalidade é dar cidadania, humanizar o espaço público. O livro na parada de ônibus vai ao encontro das pessoas. Torna-se uma tarefa mais fácil, porque é mais difícil pessoas se deslocarem de suas casas para uma biblioteca. Às vezes elas não têm tempo”, justifica Luiz.
Luiz achou tão importante o projeto de democratizar a leitura que não parou apenas no açougue, levando a ideia para as paradas de ônibus. A biblioteca popular funciona 24 horas por dia e tem como principal objetivo tornar a leitura acessível a todos.
Fonte: http://comunidade.maiscomunidade.com/conteudo/2012-07-21/cidades/7740/BIBLIOTECAS-COMPLETAM-5-ANOS.pnhtml