terça-feira, 17 de julho de 2012

Professor lança livro para ensinar pesquisadores a publicarem artigos


Rebeca Ramos




O trabalho dos cientistas é árduo. Não bastam anos de experimentos até chegar a descobertas concretas. Depois disso, eles ainda têm de colocar no papel, na forma de artigo, o resultado das pesquisas, que serão publicadas em revistas especializadas. Embora pareça fácil, a última etapa não é nada tranquila. Prova disso é a taxa de 90% de recusa nos periódicos prestigiados. Texto confuso, inglês mal escrito e documentos com informações truncadas configuram os problemas mais comuns. Para ajudar nessa fase dos estudos, um professor da Universidade de Brasília lançou o livro Artigo científicos — como redigir, publicar e avaliar os trabalhos (Editora Guanabara Koogan).

Depois de algum tempo no posto de editor de uma revista científica, o professor Maurício Gomes Pereira detectou problemas constantes nos artigos enviados ao veículo. Segundo ele, erros comuns e formas deselegantes de escrever impossibilitavam a publicação dos trabalhos. Ao pesquisar os livros existentes que ajudavam nesse esforço, Pereira percebeu que as informações não eram tão claras. “Parecia que os autores escreviam para quem não queria escrever, tamanha era a complexidade desses materiais. Foi aí que decidi reunir um material completo, que ajudasse, de fato, essas pessoas”, conta.

Para concluir o livro, Pereira reuniu pesquisas sobre a estruturação de resumos e a formade fazê- lo de forma clara, assim como outros tópicos a respeito da confecção do artigo. Segundo o especialista, existem dois problemas comuns que comprometem os textos. O primeiro é que os cientistas têm muita dificuldade para colocar no papel as informações que têm na cabeça. “Eume habituei a estudar fazendo redação. Então, para mim, esse processo sempre foi mais fácil”, conta.Ooutro problema é a falta de fluência em inglês. “Escrever em outra língua de forma clara e objetiva é uma arte para poucos, infelizmente”, acredita.

Dificuldades
A publicação em periódicos deve levar em conta outros fatores, além de saber como redigir o artigo. Pereira explica que perceber o que o editor quer é umponto positivo. “É preciso entender o que ele deseja e como lidar com os editores para ter sucesso na publicação”, ressalta. De acordo com o especialista, como a linguagem científica é bastante diferente de outros tipos de redação, saber elaborar um texto sofisticado faz diferença. Os pesquisadores precisam compreender as regras da metodologia científica e, embora estejam escrevendo para especialistas da área, o cientista também deve conhecer os leitores de determinada publicação. “Assim, ele pode ser claro para todos”, diz.

Para o diretor do Programa de Iniciação Científica da Universidade de Brasília, Mário César Ferreira, as dificuldades para publicar começam antes mesmo da redação. “Buscar um objeto de pesquisa, analisar e produzir um trabalho é bastante difícil”, assinala. Após essa etapa, ainda é preciso escolher qual o periódico mais indicado para a publicação. Como a periodicidade varia, as revistas mais bem conceituadas têm filas de artigos esperando para serem publicados. Logo, a rigidez na seleção também é maior.

A avaliação dos trabalhos entre os pares, ou seja, por profissionais da área, pode adiar ainda mais o processo. “Eles emitem pareceres que nem sempre são congruentes. Às vezes, o artigo é até rejeitado e você tem de escrever tudo novamente”, diz. Segundo Ferreira, o tempo que vai da produção à publicação impacta na produtividade do profissional. “Nós somos avaliados pela produção e dependemos disso para receber recursos e bolsas. Então, a pressão é muito grande”, relata.

De acordo com o professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) emembro afiliado da Academia Brasileira de Ciência (ABC) Stevens Rehen, o maior problema não é redigir os artigos,maspublicá-los bem. Ele explica que, para o cientista, divulgar seus artigos em revistas de alto impacto, com avaliação por pares, é o mais importante, pois o profissional é avaliado de acordo com suas publicações e citações de seus trabalhos. Não basta apenas publicar. A qualidade da revista também conta. “Atualmente, a comunidade científica brasileira publica muitos artigos, mas ainda não conseguimos emplacá-los nas melhores revistas”, conta Rehen. O especialista acha importante mudar esse cenário, e uma sugestão seria promover trabalhos multidisciplinares, como uma forma de incrementar o impacto dos estudos brasileiros.

Fonte: http://www2.correiobraziliense.com.br