sexta-feira, 18 de maio de 2012

Cem anos de nascimento de Joaquim Batista de Sena


O blog Cordel Atemporal tem a honra de divulgar a homenagem que poetas, instituições e estudiosos do Ceará prestam a um dos mestres da Literatura de Cordel Brasileira.

2012 é o ano do centenário de um dos maiores expoentes da Literatura de Cordel, o paraibano Joaquim Batista de Sena, que durante mais de quatro décadas palmilhou o Nordeste inteiro produzindo, imprimindo e revendendo seus folhetos. A partir da década de 1950 instalou o seu ‘quartel general’ em Fortaleza, onde fundou a Tipografia Graças Fátima, responsável pela publicação de seus próprios cordéis e também boa parte da criação literária de José Camelo Rezende, de quem adquiriu diversos originais. Romancista de primeira linha, Sena procura seguir a mesma trilha deixada por Camelo, Leandro, Athayde e outros gênios da poesia popular.
Mas não desdenhava o folheto-reportagem que também foi um de seus trunfos para conquistar a simpatia popular. Qualquer crime hediondo, enchente, desastre automobilístico, aparecimento de entidades sobrenaturais não escapava ao seu poder de observação, como se vê no folheto ‘O monstro do Cemitério São João Batista’ que trata de um curioso tema: a necrofilia. Entretanto, foi na passagem da imagem milagrosa de Nossa Senhora de Fátima, em 1953, que alcançou o seu apogeu como editor, percorrendo todo o itinerário da imagem pelo Nordeste afora. Ganhou tanto dinheiro que acabou batizando sua folhetaria com o nome de “Graças Fátima”. Antes disso, no início da década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu um naufrágio na baía de Quebra-Potes, no Maranhão, quando o navio em que viajava foi perseguido por um submarino alemão. Conseguiu salvar-se nadando, mas perdeu uma preciosa mala contendo diversos originais, dos quais não possuía outra cópia.
Hoje a obra de Sena parece naufragar em outros mares... o mar do esquecimento, do ostracismo a que vem sendo relegada a sua valiosa produção poética. Nada mais justo que a o Ponto de Cultura Cordel com a Corda Toda da AESTROFE – Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Ceará, com o apoio da ABC-Academia Brasileira de Cordel e CECORDEL- Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste, faça essa justa homenagem ao poeta, relançando três expressivos romances de sua lavra na passagem do seu centenário. São eles “Os Amores de Chiquinha e As Bravuras de Apolinário”, “História de Braz e Anália” e “História de João Mimoso ou O Castelo Maldito”.
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JOAQUIM BATISTA DE SENA - nasceu no dia 21 de maio de 1912, em Fazenda Velha, do termo de Bananeiras, hoje pertencente ao município de  Solânea-PB. Faleceu no distrito de Antônio Diogo (Redenção-CE) no início da década de 90 do século recém-findo. Autodidata, adquiriu vasto conhecimento sobre cultura popular e era um defensor intransigente da poesia popular nordestina. Começou como cantador de viola, permanecendo três anos neste ofício, no final da década de 30. 
No início da década de 40, vendeu um sítio de sua propriedade e adquiriu sua primeira tipografia, que funcionou algum tempo na cidade de Guarabira-PB, transferindo-se depois para Fortaleza, onde atuou durante muitos anos. Dizia-se discípulo de Leandro Gomes de Barros e era admirador incondicional de José Camelo de Melo. Na capital cearense, sua tipografia adotou o nome de “Graças Fátima”. O poeta explicava a razão desse título: durante a passagem da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima pelo Nordeste, na década de 50, ele conseguiu ganhar muito dinheiro vendendo folhetos sobre a visita da santa, ampliando consideravelmente seus negócios. Por essa época, foi vítima de um naufrágio da Baía de Quebra-Potes (Maranhão). Salvou-se nadando, mas perdeu  uma mala de folhetos, contendo diversos originais.
Em 1973 vendeu sua  gráfica e sua propriedade literária para Manoel Caboclo e Silva e tentou estabelecer-se no Rio de Janeiro, também no ramo da literatura de cordel, mas não foi bem sucedido. De volta ao Ceará, ainda editou alguns folhetos de sucesso, como o que escreveu em parceria com Vidal Santos, sobre o desastre aéreo da Serra da Aratanha (Pacatuba-CE), onde faleceu, dentre outros, o industrial Edson Queiroz.
Sena era um grande poeta, de verve apurada e rico vocabulário. Conhecia bem os costumes, a fauna, a flora e a geografia nordestina, motivo pelo qual seus romances eram ricos em descrições dessa natureza. Pode-se dizer que com a sua morte, fechou-se um ciclo na poesia popular nordestina e o gênero “romance” perdeu um de seus maiores poetas. Só agora, no início deste novo século, surgem novos romancistas que pretendem dar continuidade à trilha deixada pelo mestre.
Dentre as suas obras de maior aceitação popular, destacamos: A filha noiva do pai ou Amor culpa e perdão; A morte comanda o cangaço; As sete espadas de dores de Maria Santíssima; Estória de Manoel Seguro e Manoel Xexeiro; História de João Mimoso e o castelo maldito; História de Braz e Anália; Os amores de Chiquinha e as bravuras de Apolinário; História do assassinato de Manoel Machado e a vingança do seu filho Samuel; História do Príncipe João Corajoso e a princesa do Reino Não-vai-ninguém.

(In “Acorda Cordel na Sala de Aula”, Arievaldo Viana)



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SENA: UM CIENTISTA SOCIAL DO VERSO

O poeta e editor cordelista Joaquim Batista de Sena, se vivo fosse, completaria 100 anos neste 21 de maio de 2012. Ele nasceu em Fazenda Velha, município de Bananeiras, hoje pertencente ao município de  Solânea, microrregião doCurimataú - PB em 1912. De uma família essencialmente de agricultores, os “Baraúna”, muito cedo trocou a enxada e o trabalho no sol escaldante, pelo cultivo da rica e exuberante poesia narrativa da Literatura de Cordel, “a mais bela de todas as poesias”, na descrição do mestre Camara Cascudo. Sena, como a grande maioria dos meninos pobres que moravam nos sertões paraibanos, andou completamente nú, até os sete anos de idade. O depoimento é dele próprio, acrescentando que no seu Curimataú os meninos mais pobres, já na puberdade, passavam a maior parte do tempo dentro de casa para esconder a nudez, ou acocorados em buracos que cavavam, chegando alguns deles a criar “encriquilamento” nas pernas. Pelo longo tempo que permaneciam naquela posição. O poeta logo liberou-se dessa inusitada situação e foi viver do verso de cordel nas grandes cidades. Estudou com  professor apenas três meses, para aprender o ABC, mas jamais escreveu palavras erradas ou inadequadas nos seus “romances”. Foi considerado um dos mais importantes poetas da Literatura de Cordel em todos os tempos. Ao lado de José Camelo de Melo Resente, Joaquim Batista de Sena figura como “cientista social do verso”. Como editor, manteve duas tipografias funcionando simultaneamente, no Rio de Janeiro e em Fortaleza mas, a exemplo de outro grande editor cordelista, João Martins de Athaide, Joaquim Batista de Sena também morreu na pobreza, na cidade cearense de Redenção-Ceara, onde mantinha a sua segunda família. Foi idealizador e um dos criadores da ABC-Academia Brasileira de Cordel, detentora dos direitos autorais dos 291 títulos das chamadas “obras primas da Literatura de Cordel”. As homenagens da ABC ao poeta Joaquim Batista de Sena - o Joaquim “Baraúna”, nos 100 anos do seu nascimento.
Vidal Santos, Presidente da ABC.

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Joaquim Batista de Sena é um dos grandes nomes do cordel brasileiro de todos os tempos. Este paraibano corajoso, depois de se instalar como poeta editor, achou pequena sua Guarabira natal, e peregrinou pelo Norte e Nordeste, sempre à cata de oportunidades, e fazendo da vida uma arte de improvisar e criar histórias de trancoso.
Viveu parte do tempo em Fortaleza. Chegou aqui, foi morar lá para as bandas da Floresta (hoje Álvaro Weyne), e instalou sua Tipografia Graças Fátima à Rua Liberato Barroso, número 725, no centro da cidade.
Sempre escreveu muito e tinha fôlego para os romances, os folhetos com maior número de páginas. Dava conta do que pretendia fazer, com sensibilidade e muita competência.
Um dia, resolveu viajar para o Rio de Janeiro e se instalou na Olaria, subúrbio da Leopoldina. Parece que a experiência não foi bem sucedida. Terminou por vender seu acervo para o também poeta e editor Manoel Caboclo e Silva, estabelecido com a Folhetaria Casa dos Horóscopos, em Juazeiro do Norte. Isso aconteceu pelos idos de 1974. A transação, registrada em cartório, proporcionou um grande impulso ao empreendimento de Caboclo.
Sena vendeu folhetos junto ao Theatro José de Alencar. Morou com uma segunda família em um conjunto habitacional, na divisa entre os municípios de Redenção e Acarape. Dizia que um dos seus sonhos era organizar uma antologia ilustrada dos seus folhetos, como forma de incrementar suas vendas.
Foi um grande poeta, um “performer” na hora da venda dos folhetos, e um sertanejo cidadão do mundo e poeta de verdade. Faz cem anos que nasceu e onze que se foi. Seu legado, valioso, merece um foco de luz e a possibilidade de ser lido e admirado pelas novas gerações.      
Gilmar de Carvalho
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Os amores de Chiquinha e as bravuras de Apolinário é um romance de luta, subgênero da literatura de cordel que a pesquisadora Maria José Londres afirma derivar dos romances de encantamento. O rei das narrativas em que predomina o maravilhoso transmuta-se no coronel, a quem o herói serve como uma espécie de vassalo. O encontro com a filha do patrão é, geralmente, o motivo para o conflito, que segue um padrão com poucas variações. O modelo para histórias, como esta de Joaquim Batista de Sena, parece ser o clássico de João Ferreira de Lima, História de Mariquinha e José de Souza Leão, escrito nos anos de 1930.  Os autores parecem ter recebido também influência do filmes de cowboy, pois muitos eram fãs das películas norte-americanas, reproduzindo, até, imagens destas nas capas dos folhetos. O diferencial deste clássico, um dos grandes sucessos do poeta-editor Joaquim batista de Sena, é o tom paródico que pontua toda a história e que, futuramente, seria explorado por João Firmino Cabral no igualmente memorável A coragem de um vaqueiro em defesa do amor.
Marco Haurélio – Folclorista, editor e cordelista 

SERVIÇO:  JOAQUIM BATISTA DE SENA, ANO 100
DIA: 23 DE MAIO DE 2012 (QUARTA-FEIRA)
LOCAL: MIS – Museu da Imagem e do Som do Ceará
Barão de Studart, 410 – Bairro Meireles – Fortaleza – CE
Tel: (85) 3101-1204
Informações: (85) 9675-1099 (Klévisson Viana)
(85) 9999-7908 (Paulo de Tarso)