quinta-feira, 31 de maio de 2012

Novela incentiva a leitura


Tufão, personagem do ator Murilo Benício na novela das 21 horas Avenida Brasil, da TV Globo, é um ex-jogador de futebol ingênuo e de pouco estudo, mas que ganhou muito dinheiro graças ao esporte. É por meio da literatura, com títulos indicados por Nina (Débora Falabella), que Tufão abrirá os olhos para as falcatruas que sua mulher, Carminha (Adriana Esteves), arma contra ele. Até aí, nada demais. É apenas um enredo de um folhetim televisivo, você pode pensar. O detalhe, neste caso, é que os livros que Tufão lê caíram no gosto do público.

Com comentários pouco convencionais sobre as obras, o carismático personagem está despertando nos telespectadores um interesse que vai além da trama. O público está buscando esses livros para saber que histórias são essas que tanto mexem com a cabeça de Tufão. Ele já chamou o pai da psicanálise, Sigmund Freud, de “Fred” e comparou a desconfiança de Bentinho, em Dom Casmurro, de Machado de Assis, com a de seu pai Leleco (Marcos Caruso), que sempre está com a pulga atrás da orelha com a namorada. Ou ainda num comentário sobre Madame Bovary, Tufão diz: “Essa é louca. Ela trai o marido, mas não gosta do amante. Vai entender. Coisa de intelectual”.



Recurso


Para o autor de Avenida Brasil, João Emanuel Carneiro, os livros fazem parte da trama. “É claro que o incentivo à leitura é importante. Mas, no caso da novela, trata-se de um recurso dramatúrgico para Nina, sutilmente, chamar a atenção de Tufão”, diz o autor. “A família de Tufão, como dá para perceber, nunca foi muito de leitura.”

Já para Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana pela USP, os livros que Tufão leu formam um excelente painel literário. “Passando pelo romance existencialista, pela psicologia e chegando às raízes da escola realista. Portanto, livros perfeitos para o universo de Avenida Brasil”, observa ele.

Nas livrarias


O interesse pela literatura causado pela novela pode ser comprovado pela procura desses títulos nas livrarias e nas editoras que lançaram as obras. “São livros que já estão no mercado há várias décadas e vendem muito bem”, diz Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM, que publica em formato de livros de bolso todos os títulos que Tufão já leu. “O que percebemos como editores é que as livrarias que só colocam best sellers nas vitrines estão mudando o comportamento para dar destaque aos livros do Tufão.”
Jornalista cultural e mestre em Estudos de Literatura pela PUC-RJ, Vinicius Jatobá acha benéfico esse movimento. “Na vida real, as pessoas vão ao cinema, à praia e também leem livros. Por que não na novela também?”

Por serem obras de domínio público, a reprodução delas é livre. Alexsandra Bentemuller, gerente de conteúdo e mídia social do site Universia, conta que o portal disponibilizou para os internautas gratuitamente os e-books dos livros do Tufão. Segundo ela, em uma semana, os cinco títulos juntos foram responsáveis por 200 mil downloads.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br