Joaquim Batista de Sena - Um continuador da tradição dos mestres do cordel
Por: Arievaldo Viana
2012 é o ano do centenário de um dos maiores expoentes da Literatura de Cordel, o paraibano Joaquim Batista de Sena, que durante mais de quatro décadas palmilhou o Nordeste inteiro produzindo, imprimindo e revendendo seus folhetos. A partir da década de 1950 instalou o seu ‘quartel general’ em Fortaleza, onde fundou a Tipografia Graças Fátima, responsável pela publicação de seus próprios cordéis e também boa parte da criação literária de José Camelo Rezende, de quem adquiriu diversos originais. Romancista de primeira linha, Sena procura seguir a mesma trilha deixada por Camelo, Leandro, Athayde e outros gênios da poesia popular.
Mas não desdenhava o folheto-reportagem que também foi um de seus trunfos para conquistar a simpatia popular. Qualquer crime hediondo, enchente, desastre automobilístico, aparecimento de entidades sobrenaturais não escapava ao seu poder de observação, como se vê no folheto ‘O monstro do Cemitério São João Batista’ que trata de um curioso tema: a necrofilia. Entretanto, foi na passagem da imagem milagrosa de Nossa Senhora de Fátima, em 1953, que alcançou o seu apogeu como editor, percorrendo todo o itinerário da imagem pelo Nordeste afora. Ganhou tanto dinheiro que acabou batizando sua folhetaria com o nome de “Graças Fátima”. Antes disso, no início da década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu um naufrágio na baía de Quebra-Potes, no Maranhão, quando o navio em que viajava foi perseguido por um submarino alemão. Conseguiu salvar-se nadando, mas perdeu uma preciosa mala contendo diversos originais, dos quais não possuía outra cópia.
Hoje a obra de Sena parece naufragar em outros mares... o mar do esquecimento, do ostracismo a que vem sendo relegada a sua valiosa produção poética. Nada mais justo que a Tupynanquim Editora faça essa justa homenagem ao poeta, relançando três expressivos romances de sua lavra na passagem do seu centenário.
Capas das obras que serão relançadas pela Tupynanquim Editora
No início da década de 40, vendeu um sítio de sua propriedade e adquiriu sua primeira tipografia, que funcionou algum tempo na cidade de Guarabira-PB, transferindo-se depois para Fortaleza, onde atuou durante muitos anos. Dizia-se discípulo de Leandro Gomes de Barros e era admirador incondicional de José Camelo de Melo. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando viajava de navio de Belém a Fortaleza, foi vítima de um naufrágio da Baía de Quebra-Potes (Maranhão). Salvou-se nadando, mas perdeu uma mala de folhetos, contendo diversos originais. Na capital cearense sua tipografia adotou o nome de “Graças Fátima”. O poeta explicava a razão desse título: durante a passagem da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima pelo Nordeste, na década de 50, ele conseguiu ganhar muito dinheiro vendendo folhetos sobre a visita da santa, ampliando consideravelmente seus negócios.
Em 1973 vendeu sua gráfica e sua propriedade literária para Manoel Caboclo e Silva e tentou estabelecer-se no Rio de Janeiro, também no ramo da literatura de cordel, mas não foi bem sucedido. De volta ao Ceará, ainda editou alguns folhetos de sucesso, como o que escreveu em parceria com Vidal Santos, sobre o desastre aéreo da Serra da Aratanha (Pacatuba-CE), onde faleceu, dentre outros, o industrial Edson Queiroz.
Sena era um grande poeta, de verve apurada e rico vocabulário. Conhecia bem os costumes, a fauna, a flora e a geografia nordestina, motivo pelo qual seus romances eram ricos em descrições dessa natureza. Pode-se dizer que com a sua morte, fechou-se um ciclo na poesia popular nordestina e o gênero “romance” perdeu um de seus maiores poetas. Só agora, no início deste novo século, surgem novos romancistas que pretendem dar continuidade à trilha deixada pelo mestre.
Dentre as suas obras de maior aceitação popular, destacamos: A filha noiva do pai ou Amor culpa e perdão; A morte comanda o cangaço; As sete espadas de dores de Maria Santíssima; Estória de Manoel Seguro e Manoel Xexeiro; História de João Mimoso e o castelo maldito; História de Braz e Anália; Os amores de Chiquinha e as bravuras de Apolinário; História do assassinato de Manoel Machado e a vingança do seu filho Samuel; História do Príncipe João Corajoso e a princesa do Reino Não-vai-ninguém.
(In “Acorda Cordel na Sala de Aula”, Arievaldo Viana)
O selinho do CENTENÁRIO é criação do poeta e editor KLÉVISSON VIANA