sexta-feira, 13 de julho de 2012

Cresce número de títulos, caem tiragens de livros no Brasil. E outras curiosidades…


(Foto: Jane Mount - Ideal Bookshelf)
(Foto: Jane Mount - Ideal Bookshelf)
Foram anunciados hoje os resultados da Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada anualmente pela Fipe/USP, sob encomenda do carioca sindicado dos editores (Snel) e da paulistana Câmara Brasileira do Livro (CBL). Refere-se a 2011.
Coloco aqui os principais destaques, como fiz com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, mas não sem antes fazer as ressalvas também feitas naquele caso. A principal: o Fipe é um instituto da maior credibilidade, mas há que se levar em conta que os números em cima dos quais eles trabalham são merecedores de alguma desconfiança.
Como só há uma editora com capital aberto no país, a Saraiva, as outras casas não são obrigadas a disponibilizar seus números e não gostam de fazer isso. O desafio anual dos responsáveis pela pesquisa é convencer as editoras de que os números que elas passam não serão repassados para o mercado, apenas a somatória de todos os números.


Outra ressalva é que só uma parcela das editoras do país, estas estimadas em algo em torno de 500, participa. Neste ano, responderam ao questionário 178 editoras, das quais 128 podem ser ”emparelhadas”, ou seja, podem entrar na comparação do ano a ano porque também responderam no ano passado. Mas, como todas as grandes editoras entram nessa conta, as participantes correspondem a 57% do faturamento do setor.
Escrevi a respeito no caderno “Mercado” desta quinta, com destaque para como o mercado editorial hoje depende das compras feitas pelo governo para não encolher.
(Foto: Jane Mount - Ideal Bookshelf)
(Foto: Jane Mount - Ideal Bookshelf)
Aos números que mais me chamaram a atenção, então:
- Em 2011, foram editados 58,2 mil títulos, entre novos e reedições, ante 54,8 mil em 2010, um aumento de 6,28%.
- O crescimento do número de exemplares produzidos foi menor, de 1,47% (passou de 492 milhões para 499 milhões). O que significa, na comparação com o número de títulos, que o mercado está trabalhando com tiragens menores. É um movimento curioso. Num mercado em crescimento, o natural seria que as tiragens também crescessem (como lembraram nos comentários, isso tem a ver também o fato de a reimpressão hoje ser bem mais barata, e a estocagem, cada vez mais cara).
- O crescimento de faturamento no setor foi de 7,36%. Descontada a variação de 6,5% do IPCA, foi um crescimento apertado, de apenas 0,81%. Em 2010, descontada a inflação, o crescimento de faturamento com vendas para o governo e para o mercado tinha sido de 2,63%.
- Considerando só vendas ao mercado, houve decréscimo de 3,27% no faturamento. Em 2010 já tinha havido decréscimo, de 2,24%.
- O número de exemplares de livros vendidos ao mercado cresceu 9,8%. Você pode entender que o brasileiro está comprando mais livros, quiçá lendo mais.
- O preço médio do livro caiu 6,11%, se considerado só o mercado (isso explica o faturamento cair, apesar de a venda de exemplares crescer). Não é nada que você possa perceber: o preço médio da venda das editoras para as livrarias (que fica em torno de 50% do valor final do livro) passou de R$ 12,94 para R$ 12,15.
- A maior queda de exemplares produzidos foi no subsetor de obras gerais, ou seja, a ficção e a não ficção que entram nas listas de mais vendidos. Nesse caso, houve queda de 26,5% no número de exemplares e um crescimento de 8,74% no número de títulos. Outra vez as tiragens: para se manterem nas livrarias, que privilegiam lançamentos, as editoras preferem lançar mais títulos em levas menores.
(Foto: Jane Mount - Ideal Bookshelf)
(Foto: Jane Mount - Ideal Bookshelf)
- Se o preço médio do livro para o mercado caiu, o preço nas vendas para o governo teve um aumento de 6,55%, chegando a uma média de R$ 7,48. Snel e CBL dizem que o valor para o governo varia ano a ano, porque há ano em que o governo compra livros para crianças pequenas, que podem ser mais caros, em outros compra livros para adolescentes. O fato é que em 2010 esse preço médio também tinha crescido.
- Um dado curioso diz respeito ao subsetor religioso, no qual as vendas para o governo tiveram um aumento de 487,2% (porque a base inicial era muito baixa). Antes que alguém questionasse por que um Estado laico estaria comprando livros religiosos, a CBL esclareceu que esse número diz respeito a editoras que se identificam como religiosas, mas que não necessariamente os livros vendidos são religiosos. Hm.
- Depois de três anos de crescimento expressivo na participação do total de vendas ao mercado, o porta-a-porta teve uma queda brusca. Em 2010, representava 21,66% das vendas. Agora, representa 9,07%. Crise na Avon, maior vendedora do porta-a-porta? Crescimento de outros meios, como vendas em igrejas e templos (que passou de 1,26% para 4,03%)?
- O faturamento com e-books foi de R$ 869 mil, sendo a maior parte, quase R$ 400 mil, em obras gerais, cuja oferta nesse formato é mais variada que a de livros didáticos, religiosos ou técnicos. Anyway, não chega a 0,02% do faturamento total do setor editorial.
As imagens acima são da Jane Mount, que criou um projeto, o Ideal Bookshelf, pelo qual ilustra fotos de livros em prateleiras.