segunda-feira, 7 de maio de 2012

Retratos da leitura no Brasil


Por Ana Paula de Rezende*

O resultado da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, em sua 3ª edição,  divulgada no último dia 28/03,  aponta que a média de leitura do brasileiro é de 4 livros por ano, sendo apenas 2,1 livros até o fim. Triste notícia se não fosse uma pesquisa, pois como toda pesquisa é apontamento para análise e repercussão.  Certo é que o governo iniciou discussões e levantamentos de novos projetos para tentar sanar este problema, porque como afirmou a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, presente na abertura do Seminário com o mesmo título da pesquisa,  A leitura, quando vai além do livro didático, vai permitir a formação do cidadão, vai dar ao cidadão as ferramentas do conhecimento, permitir a ele desenvolver a capacidade de reflexão e análise, de questionar e desenvolver seu pensamento e sua opinião. A literatura tem essa capacidade.”


A leitura é um hábito e como tal deve ser cultivado. O problema vem de berço, da formação do leitor, das ações e interferências para que este leia e se habitue a ler. Para a educação infantil, neste sentido, percebe-se diversos esforços, programas com a utilização de livros em diversas atividades, a fomentação da curiosidade relacionando-os com as disciplinas escolares. Mas, para mudar este álbum de retratos opacos sobre a leitura, o desafio não está apenas na  falta de hábito, na deficiência do acesso ao livro, que começa na infância e que se dá por uma série de motivos,  atingindo outras questões como a escolaridade. Está na falta de empenho de toda a sociedade. Questões que envolvem a educação são muitas, como a do controle do livro didático, a atual  polêmica do consumo da merenda escolar pelos professores, enfim, são desafios que necessitam do envolvimento da sociedade nas políticas públicas voltadas para enfrentar esse quadro. A exemplo do que sugeriu a deputada Fátima Bezerra (PT-RN), que iniciou o debate sobre o resultado da pesquisa no parlamento, acredita-se que para reverter a situação, a sociedade civil também precisa cobrar resultados dos Ministérios da Cultura e da Educação, de seus dirigentes e de seus eleitos.

O que impede o brasileiro de ler mais é a falta de conhecimento do prazer na leitura. “Quando a pessoa diz que não tem tempo para ler, na verdade, ela tem tempo para outras coisas, como ver televisão”, afirmou Karine Pansa, presidenta do Instituto Pro-livro, que encomendou a pesquisa. A conclusão citada por Amanda Cieglinski (Agência Brasil– 28/03/2012), é demonstrada no resultado,  que o maior impedimento é a falta de tempo, citada por 53%, seguida pelo desinteresse, admitido por 30%. Apenas 4% dizem que não leem porque o livro é caro e 6% porque não têm bibliotecas perto de casa. O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, afirma que o Brasil está chegando perto da meta de ter pelo menos uma biblioteca pública por município e um dos  problemas apontados pela pesquisa é que três em cada quatro brasileiros nunca foram a uma biblioteca. (Ginny Morais – Agência Câmara – 29/03/2012). Se quase todos os municípios já possuem uma biblioteca, qual é o fator que impede as pessoas de frequentá-las? É o horário de funcionamento? É a sua atuação? Como são as atividades durante as férias?

No mês de abril, comemorou-se o Dia Internacional do Livro Infantil (dia 02), em homenagem a Andersen e o Dia Nacional do Livro Infantil (dia 18), em homenagem a Monteiro Lobato, aproveitamos para relembrar que precisa-se urgentemente conquistar o leitor, chamá-lo a participar, encantá-lo, como os homenageados o fazem em seus textos. Precisa-se incentivar por meio da  própria televisão, em suas novelas, desenhos animados e até reality shows, o hábito da leitura. Precisa-se mobilizar a sociedade em prol desta prática. Em Belo Horizonte, por meio da  Agência de Sistemas de Informação – AGESIN, com o projeto “Seu livro”, pratica-se o BookCrossing, que é um movimento, que em alguns países, prega o ato de doar livros, deixá-los em um local público para que sejam encontrados e lidos por outros leitores. São de práticas semelhantes a esta e iniciativas como aquela dos textos pendurados nos bancos dos ônibus; como a da venda de livros em revistas femininas que  podem fazer a diferença.  E se tivessem livros nas cadeiras dos serviços de atendimento ao público?  Como nos bancos, nos laboratórios e até nas barracas de praia? Lugares para iniciar o estímulo e a formação do hábito da leitura, aumentando o número de leitores e consequentemente, de cidadãos conscientes. Que se comece por textos, por redes sociais, por auto-ajuda, pois o que importa é desenvolver o hábito da leitura e formar cidadãos críticos e participativos.
* Especialista em Gestão Estratégica da Informação e bibliotecária pela UFMG.