Ana Virgínia C. de Melo
Foi um rapaz bem
aparentado
que tinha acabado de virar
rei.
Em sonho, Deus lhe
disse:
É pra hoje mesmo,
visse:
"Meu rapaz, você foi
coroado
pede um presente e Eu lhe
darei."
Ele já a tinha resposta
pronta,
não custou nem um
piscado,
disse: eu quero é ser
desarnado
porque ‘tô feito barata
tonta,
precisa juízo demais da
conta
pra eu dar conta desse
riscado.
É uma razão de um
lado
e do outro também
tem
e eu no meio, não
quero
tirar a razão de
ninguém.
Ser um rei justo,
sincero
e bom, é esse o
porém.
Que seja assim meu
reinado.
E muito Deus se
agradou,
daquele nobre
coração
e lhe disse
embevecido:
"Dou-lhe um coração
sabido
como nunca se
notou jamais
e eu lhe dou ainda
mais."
Não há tesouro
escondido
como o que lhe vai ser
revelado.
Dou riqueza por todo
lado
e um bucho bem
furnido
porque fez direito o
pedido
e sabe o que é
valorizado.
O rei Salomão se
animou
com sua bênção
prometida.
Deu como recebida
e ele logo a
aproveitou,
numa querela
comprida
de duas mulé da
vida.
Duas mães
desmanteladas,
cada uma pariu um
menino.
De noite, uma
abestaiada
deitou-se no
pequenino.
E pra não ficar
desfilhada
tomou o da que tava
dormino.
A mulher contou a sua
versão
de toda a sua triste
história.
O rei resolveu a
situação
sem nem puxar pela
memória.
Chamou logo o
capitão:
- Ôme, traga aqui seu
facão!
Com a ordem
inesperada
o Capitão veio
sartando.
E o povo foi se
rebuliçando
querendo ver a
solução.
Ouviu do rei foi a
lapada:
Parta no meio o
chorão!
Aquela que nem
prestava,
bem alto, a doida
gritava:
- Parta bem no meio do
bucho.
Ninguém leva esse
gorducho.
E eu fico é de égua
lavada.
Melhor metade do que
nada.
E o aquieta arreda, ficou
ativo,
mas não demorou o
impasse.
Antes que a desgraça
chegasse
uma delas disse com
pavor:
Seu rei, por favor, seu
doutor,
dê o menino a ela, mas dê
vivo.
O rei parou toda a
revolta
e mandou agir com
sabedoria,
o amor da mãe
recompensou
entregando o filho a quem
amou,
lhe dando de novo a luz da
vida,
mesmo que ficasse só e
sofrida.
Não há saber maior que o
dela
saber que Deus deu à mãe da
gente.
Seja de tirar com água a
remela
ou de curar com beijo o
doente.
Porque a sabedoria que mora
nela
é a que lhe deixa a gente
contente.
Mãe, o seu amor
é um tesouro
que vale muito mais do que
ouro.
Nele, Deus me mostrou a
riqueza
desse amor tão puro e
especial.
Seu cuidado ensina a
certeza
da proteção de todo o
mal.