Coluna do Elio Gaspari
Folha de São Paulo, 22/01/2012
O FUTURO DOS LIVROS DIDÁTICOS
Na
quinta-feira, realizou-se a última promessa de Steve Jobs. A Apple
entrou no mercado americano de livros didáticos. Associada às maiores
editoras americanas, ela produzirá livros a US$ 14,99, uma verdadeira
pechincha. No mesmo lance, lançou o aplicativo iBooks Author (grátis),
que transforma qualquer autor num editor.
O Author turbinará o
mercado de livros feitos em casa e vendidos na rede. Ele já existe, com
resultados surpreendentes. Amanda Hocking, uma jovem de 26 anos movida a
Red Bull que escreveu 17 livros nas horas vagas, submeteu-os a 50
editoras de papel e foi recusada por todos. Botou nove deles na rede,
vendeu 1 milhão de cópias e embolsou US$ 2 milhões. O mais barato é
grátis, o mais caro custa US$ 8,99. (Com seu viés açambarcador, a Apple
quer que a freguesia só use o Author em Macs e que só comercialize os
livros na sua loja.)
Já os e-books didáticos prenunciam uma
revolução, com vídeos, áudios e imagens que mudam ao toque do freguês.
Mais a possibilidade de criação de comunidades de jovens que estudam
naquele volume.
Tudo isso por menos da metade do preço de um livro de papel.
Quem
quiser ver o que vem por aí, pode baixar a versão para iPad ou iPhone
de "Our Choice" ("Nossa Escolha - Um Plano para Resolver a Crise
Climática"), de Al Gore, por US$ 4,99.
Essa revolução está na
rua. Em vez de o governo pensar num modelo Kodak, comprando 500 mil
laptops ou tabuletas, derramando dinheiro da Viúva com ferragens numa
rede onde faltam professores e cursos de qualificação, os ministérios da
Educação e da Ciência poderiam planejar o futuro.
Em 2010, o MEC gastou R$ 855 milhões no bem-sucedido Programa Nacional do Livro Didático.
Desse
ervanário, pelo menos R$ 700 milhões foram gastos com papel e
impressão. Coisas como alfafa e cocheiros no tempo das carruagens. Os
autores ficaram com algo mais de R$ 50 milhões.
Os dias das
grandes editoras de livros didáticos penduradas em parques gráficos
durarão o quanto duraram os estábulos no início do século passado.
Nos
próximos anos, com a disseminação e o barateamento das tabuletas, as
editoras, grandes ou pequenas, se diferenciarão pelo qualidade dos seus
cérebros.
Se o governo for humilde na compra de ferragens, porém
ambicioso no planejamento da capacitação de professores e de técnicos
capazes de estimular e organizar autores, todo mundo ganha, sobretudo a
Viúva.
Fonte: http://abibliotecaria.blogspot.com/2012/01/apple-livros-didaticos-ibooks-author.html