Leandro Gomes de Barros, desenho de Arievaldo Viana
O atirador de palavras
Em seus milhares de folhetos, o cordelista Leandro Gomes de Barros dá voz aos figurantes mudos da História
Francisco Cláudio Alves Marques
2/1/2012
De um lado, políticos, oligarcas e coronéis eloquentes; de outro, uma população formada principalmente por analfabetos e despolitizados, que assistiam a tudo em silêncio. Esta é a imagem que a historiografia tradicional costuma transmitir sobre as primeiras décadas da República. Mas, à margem da literatura oficial, havia um discurso contrário ao regime que se formou, como mostram os folhetos satíricos do poeta nordestino Leandro Gomes de Barros (1865–1918). Muitos poetas populares escreveram no período, mas o nome que se destaca é o deste paraibano, pela forma satírica como tratou a realidade política e social.Ele nasceu na Fazenda Melancia, em Pombal, Paraíba, e ainda jovem mudou-se para Pernambuco. Morou em Vitória de Santo Antão, Jaboatão e Recife. Na capital, foi pioneiro na produção sistemática de folhetos de cordel. Francisco das Chagas Batista (1882-1930), um dos primeiros editores do gênero, incluiu Leandro entre os chamados “poetas de gabinete”, assim denominados os que escreviam cordel e insistiam em declarar que não eram cantadores ou que jamais participaram de cantorias. O folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) chegou a fazer uma estimativa e tanto sobre Leandro: ele teria publicado “mais de dez mil folhetos, vivendo exclusivamente de sua pena”.
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