sábado, 28 de janeiro de 2012

Obra do poeta Elmo Nunes chega à Fundação Biblioteca Nacional

Por Marcus Peixoto

Jornalista, escritor, Redator do Diário do Nordeste e Assessor de Imprensa da Prefeitura de Fortaleza


“Agradecemos esta importante contribuição para a preservação e a guarda da produção intelectual nacional”. Essas foram as palavras de Daniele Del Giudice, chefe da Fundação Biblioteca Nacional, ao anunciar iniciativa que contempla cordéis de autoria do poeta Elmo Nunes de Poranga, no Ceará. Três títulos do poeta foram selecionados para ocupar espaço na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, os quais são: “Amigos na Estrada” 1ª edição, “Preservando Para Melhorar” 2ª edição e “No Combate ao Mundo das Drogas”2ª edição, cordel reeditado para lançamento-2012, em virtude do “prêmio Patativa do Assaré” do qual o poeta é vencedor na categoria “criação e produção” pelo Ministério da Cultura. O cordel que aborda temática sobre as drogas, será lançado por seu autor nas escolas municipais e estaduais de Poranga, seu próprio município, enquanto o Ministério da Cultura fará a distribuição nas Bibliotecas Públicas do País referente a 10% sobre a tiragem de 7000 mil exemplares. Além dessa deferência ao artista popular de Poranga, Município quase vizinho ao Estado do Piauí, há uma retomada da literatura de cordel nas escolas públicas brasileiras e, em particular, do Ceará. O fenômeno é acompanhado pelo professor aposentado da Universidade Federal do Ceará (UFC) e estudioso da Cultura Popular, Gilmar de Carvalho, como um movimento promissor, uma vez que se rompe com os estigmas de que o cordel se tratava de para-literatura, anti-didático (como, por exemplo, seus sucessivos erros de concordância), e agora passando a lidar com o que faz parte do imaginário mais antigo da nordestinidade. Ou seja, alarga fronteira para se conviver com outras formas de expressão. "Quem não teve uma babá, uma ama de leite, um tio que não contou histórias a partir do cordel? Indaga Gilmar de Carvalho. No mundo digital, em que a leitura no papel vem cada mais sendo negligenciada não vê como um paradoxo se retomar esse segmento cultural, uma vez que muitos artistas estão sintonizados com as novas tecnologias. Cita vários cordelistas que hoje publicam suas obras em blogs. Contudo, Gilmar chama a atenção para se formar um mix com a literatura canônica. Ler Guimarães Rosa, Machado de Assis é algo que se deve ser somado à arte que se manifesta das raízes populares. "O bom leitor é aquele que é inquieto", afirma Gilmar.

CONFIRAM TRECHOS DOS CORDÉIS CITADOS NO TEXTO:


AMIGOS NA ESTRADA

Meus companheiros leitores

Que apreciam meus cordéis

Sou muito grato por tê-los

Como leitores fiéis

Que adquirem meus folhetos

E de amigos menestréis.


Menestréis que vou lembrar

Com prazer no coração

Eles que são meus amigos

Trovadores do sertão

Por isso elevo a todos

Esta minha saudação.


Pequeno diante deles

“Sou semente que deu grão”

Pois, papai como poeta

Plantou-me em fecundo chão

Pra nascer e crescer forte

Em um vertente rincão.



PRESERVANDO PARA MELHORAR

(Montado para peça teatral)


Caro amigo poranguense

Quero chamar-lhe atenção

Para os erros cometidos

Que o homem faz em vão

Destruindo nossa terra

Sem fazer preservação.


Ouça com muita atenção

O que quero lhe falar

Sobre esse problema sério

Que estamos a passar

Mas sabendo que na vida

Tudo pode melhorar.


E pra melhorar depende

De nós uma boa ação.

Pra amenizar o problema

Em conscientização

Contra o tal desmatamento

E a cruel poluição.


José – Mas sabemos que tem gente

Que não sabe preservar,

Por faltar conhecimento

Ou não querer se informar.

Inclusive meu compadre

Que danos vive a causar.


João - "Compade" José me diga

Mas que falação é essa?

Que erro tô cometendo?

Me fale sem "munta" pressa

Porque vivo a "trabaiá"

E o "sinhô" só tem conversa.


José - Compadre João, por favor,

Preste muita atenção,

Que eu vou lhe ensinar

A cuidar da plantação

Sem ter que provocar mais

A cruel poluição.


No Combate ao Mundo das Drogas


Para combater as drogas

É preciso seriedade

De quem eu aqui aponto

Para se ter na verdade

Um mundo com esperança

E saudável sociedade.


Por isso é que eu envolvo

Três coisas neste poema:

Política mídia e justiça

Na luta contra o problema,

Ainda organizações

Não descarto deste tema.


Com respeito autoridades

Chamo aqui sua atenção

Confiante em seus deveres

Mesmo na legislação.

Não vou fechar os meus olhos

Pois também sou cidadão.


Muitas iniciativas

Sei que estão sendo tomadas

Nas políticas de controle

Mas precisam ser lembradas

Pra que ORGANIZAÇÕES

Sejam beneficiadas.


Para isso é necessário

Os recursos obter

Pra organizações que lutam

Ajudando a combater

Este caso problemático

Impedindo-o de crescer.


São recursos financeiros

Mesmo governamentais.

Também no funcionamento

Dos conselhos estaduais.

O Legislativo deve

Ter eficácia demais.



Não devemos desprezar

Os que já são usuários

Porque quem usa é doente

E apoios são necessários

Para que a vida renasça

Basta sermos solidários.
 
Fonte: http://mundocordel.blogspot.com/