sábado, 13 de outubro de 2012

A história de Décio Dimas e Dolly Dance
















I
A história que lhes conto
Vem da verve de esteta
De poeta cordelista
Que na invenção enceta
Pra montar rima com rima
Metrifica e determina
Pois cordel é sua meta
II
Décio Dimas um poeta
Oriundo do sertão
Que no rap e no cordel
Era mesmo um cobrão
Veio morar no Recife
Aumentar o seu cacife
E vencer na profissão
III
E sair nesta missão
De deixar o interior
Indo para a capital
Pra mostrar o seu valor
E assim poder mostrar
Com faz o versejar
De um vate trovador
IV
Era fã de cantador
Repentista com viola
Desde os tempos de menino
Essa foi a grande escola
De ouvir o repentista
E o poeta cordelista 
Que seu verso desenrola 


V
Com um sonho na cachola
Pouco em seu matulão
Correu pra rodoviária
Embarcando num busão
Seu destino ali traçado
Foi ao sonho embalado
Com vontade e decisão
VI
Com pandeiro era um fodão
Declamava a poesia
De Dedé e Amazan
Como ele bem fazia
E assim nessa batalha
No Recife assim se espalha
Dia e noite, noite e dia 
VII
E assim ele seguia
A morar numa pensão
Com um monte de maloca
Era briga de montão
Teve um que arretou-se
E pra ele assim armou-se
Com uma lapa de facão
VIII
E assim na confusão
Ele nunca fraquejava
Encarava com coragem
Tudo que a vida dava
O cachê malamanhado
Que chegava atrasado
Quando a fundação pagava 

IX
Mas um dia encontrava
Uma doida poetisa
Dolly Dance era seu nome
Sempre a viver de brisa
Recitais sempre faziam
Mas no fundo percebiam
Isso não dava camisa 
X
Ele liso e ela lisa
Sem motel poder pagar
No seu quarto apertadinho
Que eles dois iam trepar
E assim seu Décio Dimas
Entre pandeirada e rimas
Resolveu tudo mudar
XI
Um cachê que foi ganhar
Num projeto em Petrolina
Quando voltou pra Recife
Sua mente assim atina
Vou comprar é um teclado
Aprender esse danado
Pois teclado é coisa fina
XII
E chamou sua menina
Pra com ele ensaiar
Quando não tinha projetos
Ele e ela a malhar
Entre recitais refregas
Eles ensaiando bregas
Pra sua vida então mudar 

XIII
E assim muito ralar
Nos botecos da cidade
Uma grana muito curta
Vida com simplicidade
Mas os dois nesse batente
Como teclado ali de frente
Brega chique é bem verdade
XIV
E fazer publicidade
Com um site na internet
Apelaram para tudo
Que a ousadia assim compete
Essa dupla conhecida
Batalhando nesta vida
Pra arrumar algum tiete
XV
Com uma fome de pivete
Muitas contas pra pagar
Vez em quando um recital
Dava para descolar
Fundação que faz cultura
Sacaneia é uma tronchura
Bota mesmo é pra lascar
XVI
Foi dureza pra danar
Até que num belo dia
Eles dois foram chamados
Pra tocar para uma tia
Uma velha muito rica
Caretona e pudica
Foi numa churrascaria 

XVII
Dolly ali se vestiria
Qual Joelma de Chimbinha
Décio Dimas de Elvis Presley
Eita dupla arretadinha
Foi uma noite de sucesso
Tanto que teve regresso
Nesta casa bacaninha
XVIII
Muita gente ali vinha
Pra ouvir bregueteria
Décio Dimas que compunha
Toda letra e melodia
Até que num belo dia
Produtor ali surgia
E escutou com euforia 
XIX
Ele então convidaria
O casal para gravar
E assim em poucos meses
Seu CD a estourar
Seus amigos cordelistas
Invejosos vigaristas
Muito mal foram falar
XX
Foram com ele ralhar
E falar de forma dura
Como pode grande Décio
Fazer essa ruptura
De largar verso brejeiro
Pra virar um bregueteiro
De trair velha cultura

XXI
E foi mesmo uma loucura
Pois até Zezé Loureiro
Que foi o seu professor
Deu-lhe um sermão inteiro
E até Tico Verdosa 
Velho vate bom de prosa
Chamou ele de fuleiro 
XXII
Mas o Décio com dinheiro
Foi morar numa mansão
Tinha oito seguranças
Governanta e um carrão
Aconteça o que aconteça
Foi cagando na cabeça
Foi a sua opção
XXIII
No Gugu e no Faustão
Ele foi aparecer
E um tema de novela
Também foi acontecer
E assim famoso e rico
No fubá qual tico-tico
E botando pra fuder
XXIV
Foi o mundo conhecer
Alemanha e o Japão
Fez turnê de norte a sul
Até no Afeganistão
Sua agenda sempre cheia
Esse bom cabra de peia
A ganhar um dinheirão 

XXV
Com Teló fez gravação
De programas de TV
Foi até lá em Barretos
Num rodeio aparecer
Os seus shows que eram tantos
Com Gaby a Amarantos
Fez até novo CD
XXVI
Dollyane que foi ter
O seu filho no estrangeiro
Quando estavam em Miami
De turnê em um cruzeiro
E assim Décio crescia
Dolly sua companhia
Na bagaça e no salseiro 
XXVII
Esse artista brasileiro
Com tantos por aí
Conheceu grande sucesso
Nesse nosso patropi
Mas sucesso vem e vai
E um dia a casa cai
Foi aquele ti-ti-ti
XXVIII
Foi num show no Piauí
Ele teve uma recaída
E vestiu-se de vaqueiro
Sua Dolly ali vestida
Com vestes de cangaceira
Cantaram uma bagaceira
Forrozada foi ouvida 

XXIX
A platéia aturdida
Por ali sem entender
Como seu grande cantor
Um forró pôde fazer
Essa gente alienada
Que não entendeu foi nada 
E vaiou pra derreter
XXX
Isso foi acontecer
Pois o Décio assim sonhava
Que se um dia fosse rico
À raiz real voltava
E assim cumpriu promessa
Ao forró voltou com pressa
E um ciclo se encerrava
XXXI
Produtor se arretava
Demitiu ele na hora
Mas a grana que ele tinha
E também sua senhora
Dava pra eles viverem
Seus projetos conceberem
E fizeram ali na tora
XXXI
Eu sou sei que ele agora
É um craque na sanfona
Já não quer tocar teclado
E o forró não abandona
Fez as pazes com os poetas
Tem agendas bem repletas
E faz show até na zona. 

Fonte: http://allancordelista.blogspot.com.br/