Sirleide Pereira*
Aos poucos, a divulgação científica brasileira está assumindo os contornos de uma senhora, pois, neste ano,
muitas das editoras públicas universitárias do país estão completando 50 anos. As editoras universitárias da
Universidade Federal da Bahia (EDUFBA), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EDUFRN), da
Universidade de São Paulo (EDUSP), da Universidade de Brasília (EDUNB), além da Editora da Universidade
Federal da Paraíba (EDUFPB) estão refletindo sobre o papel que desempenham para a propagação de saberes
produzidos no âmbito das instituições públicas do ensino superior do país (IES)[1].
Todas, de uma maneira ou de outra, seja por meio de eventos de discussões e debates, como seminários,
colóquios e encontros, seja por meio de lançamentos de novos títulos ou relançamento de autores já publicados,
estão se articulando com as comunidades científicas e com a sociedade em geral para olhar, criticamente,
esse passado ainda recente (o cinquentenário) e elaborar um futuro que ainda está por vir, porém mais
compromissado com a popularização da ciência e da tecnologia (C&T), com enfatiza Albagli (2006).
Observe-se que essas comemorações não são pontuadas apenas por uma agenda festiva. Em verdade,
chamam para si a atenção do público em geral e, em particular, da mídia. Porém, dividem com a comunidade
acadêmico-científica a tarefa de repensar políticas públicas institucionais para a publicação do conhecimento
subsidiado pela sociedade. Comprometem, enfim, públicos externos e internos com uma atividade ainda pouco
discutida nas universidades: a máxima divulgação dos resultados de suas pesquisas. Praticam o planejamento
participativo, no sentido da maioria opinar como atender ao direito do outro à informação científica. Inserem,
enfim, as editoras públicas universitárias na agenda da discussão nacional ao cumprimento da lei de acesso à
informação. Como expressa a diretora da EDUFRN, Profa. Margarida Dias de Oliveira: “Estamos preparando a
editora para os próximos 50 anos”. É a materialidade do “agir comunicativo” de Jürgen Habermas, filósofo e
sociólogo alemão, criador da Teoria da ação comunicativa (TAC).
O cinquentenário de cada uma dessas editoras torna-se, então, uma estratégia de inserção dessas unidades
públicas de informação e produtoras de meios de comunicação em uma das discussões nacionais que vão
alimentar, daqui por diante, quase todas as politicas públicas do país: acesso amplo, geral e irrestrito à
informação. Assim, Jügen Habermas e os seus seguidores estão contemplados. Vigilante e defensor da
democracia deliberativa, ele diz que a liberdade do indivíduo está diretamente relacionada à sua emancipação.
O sujeito só se emancipa quando conquista o espaço da fala, quando passa a ter consciência de seus atos.
E esse é o fio condutor do pensamento de Habermas, para quem razão é “esclarecimento” que pode ser potencializado em “conhecimento” e esse somente é constituído a partir de “informação” (MEDEIROS, 2012). “Estoy convencido de que comunicar es, siempre, la acción más ejecutada. A todas las horas. La vida es comunicación”[3]. É tudo quanto investigadores, pesquisadores e autores precisam: comunicar para as comunidades científicas suas descobertas. Alargar, mais ainda, a faixa de pessoas informadas. Socializar o conhecimento para que os indivíduos se apropriem dele e o transformem em benefício para si. Enfim, a tão sonhada função social à ciência, como prega Weber (2010), um dos primeiros mentores de Habermas. Fazer da informação científica a razão do argumento do homem comum.
*Sirleide Pereira, jornalista da UFRN. Mestre em Ciência da Informação pela UFPB.
[1] Mais detalhes sobre o tema: ver PEREIRA, F.S. Memória da produção editorial científica da EDUFRN:
1962-1980. Mestrado (Ci. da Inf.). João Pessoa, PPGCI : UFPB), 2012.
[2] Entrevista concedida por Habermas ao Grupo Habermas, Universidad Nacional de Colombia, 2009.
Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=bCt3A1GB1VM&feature=fvwp&NR=1.
Acesso em 16.10.2012.
[3] Entrevista concedida por Habermas ao Grupo Habermas, Universidad Nacional de Colombia, 2009.
Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=bCt3A1GB1VM&feature=fvwp&NR=1.
Acesso em 16.10.2012.