terça-feira, 23 de outubro de 2012

TAC – Um olhar sobre o cinquentenário das editoras universitárias


Sirleide Pereira*

Aos poucos, a divulgação científica brasileira está assumindo os contornos de uma senhora, pois, neste ano, 
muitas das editoras públicas universitárias do país estão completando 50 anos. As editoras universitárias da 
Universidade Federal da Bahia (EDUFBA), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EDUFRN), da 
Universidade de São Paulo (EDUSP), da Universidade de Brasília (EDUNB), além da Editora da Universidade 
Federal da Paraíba (EDUFPB) estão refletindo sobre o papel que desempenham para a propagação de saberes 
produzidos no âmbito das instituições públicas do ensino superior do país (IES)[1].
Todas, de uma maneira ou de outra, seja por meio de eventos de discussões e debates, como seminários, 
colóquios e encontros, seja por meio de lançamentos de novos títulos ou relançamento de autores já publicados,
 estão se articulando com as comunidades científicas e com a sociedade em geral para olhar, criticamente,
 esse passado ainda recente (o cinquentenário) e elaborar um futuro que ainda está por vir, porém mais
 compromissado com a popularização da ciência e da tecnologia (C&T), com enfatiza Albagli  (2006).


Observe-se que essas comemorações não são pontuadas apenas por uma agenda festiva. Em verdade,
 chamam para si a atenção do público em geral e, em particular, da mídia. Porém, dividem com a comunidade 
acadêmico-científica a tarefa de repensar políticas públicas institucionais para a publicação do conhecimento 
subsidiado pela sociedade.  Comprometem, enfim, públicos externos e internos com uma atividade ainda pouco
 discutida nas universidades: a máxima divulgação dos resultados de suas pesquisas. Praticam o planejamento
 participativo, no sentido da maioria opinar como atender ao direito do outro à informação científica. Inserem, 
enfim, as editoras públicas universitárias na agenda da discussão nacional ao cumprimento da lei de acesso à
 informação. Como expressa a diretora da EDUFRN, Profa. Margarida Dias de Oliveira: “Estamos preparando a 
editora para os próximos 50 anos”. É a materialidade do “agir comunicativo” de Jürgen Habermas, filósofo e 
sociólogo alemão, criador da Teoria da ação comunicativa (TAC).
O cinquentenário de cada uma dessas editoras torna-se, então, uma estratégia de inserção dessas unidades
 públicas de informação e produtoras de meios de comunicação em uma das discussões nacionais que vão
 alimentar, daqui por diante, quase todas as politicas públicas do país: acesso amplo, geral e irrestrito à
 informação. Assim, Jügen Habermas e os seus seguidores estão contemplados. Vigilante e defensor da 
democracia deliberativa, ele diz que a liberdade do indivíduo está diretamente relacionada à sua emancipação. 
“Soy guardián y defensor de la democracia. Estoy convencido de la democracia deliberativa”[2].  
O sujeito só se emancipa quando conquista o espaço da fala, quando passa a ter consciência de seus atos. 
E esse é o fio condutor do pensamento de Habermas, para quem razão é “esclarecimento” que pode ser potencializado em “conhecimento” e esse somente é constituído a partir de “informação” (MEDEIROS, 2012). “Estoy convencido de que comunicar es, siempre, la acción más ejecutada. A todas las horas. La vida es comunicación”[3]. É tudo quanto investigadores, pesquisadores e autores precisam: comunicar para as comunidades científicas suas descobertas. Alargar, mais ainda, a faixa de pessoas informadas. Socializar o conhecimento para que os indivíduos se apropriem dele e o transformem em benefício para si. Enfim, a tão sonhada função social à ciência, como prega Weber (2010), um dos primeiros mentores de Habermas. Fazer da informação científica a razão do argumento do homem comum.


*Sirleide Pereira, jornalista da UFRN. Mestre em Ciência da Informação pela UFPB.


[1] Mais detalhes sobre o tema: ver PEREIRA, F.S. Memória da produção editorial científica da EDUFRN
1962-1980. Mestrado (Ci. da Inf.). João Pessoa, PPGCI : UFPB), 2012.
[2] Entrevista concedida por Habermas ao Grupo Habermas, Universidad Nacional de Colombia, 2009.
Acesso em 16.10.2012.
[3] Entrevista concedida por Habermas ao Grupo Habermas, Universidad Nacional de Colombia, 2009.
 Acesso em 16.10.2012.