Muita coisa já se viu
No nordestino Sertão
Na mira do parabellum
No reinado de Lampião
Coronel cagava fino
E chorava feito menino
Sob o tiro do mosquetão
Um arrogante coronel
Chamado Zé de Cabrobó
Tratava seus empregados
Com chicote ou no cipó
E se achava valentão
Exibindo seu três oitão
Debaixo de um paletó
Exibia-se pras donzelas,
Pois se achava bonitão
E dizia ser mais brabo
Que o Capitão Lampião
Só porque era rico,
Se achava o dono do circo,
E se dizia ser valentão
Tinha cinco fazendas
E o título de coronel
Cortava fígado de pobre
Pra fazer sarapatel
E deixava os mortos nus
A mercê dos urubus
Pois adorava ser cruel
Foi fugindo do coronel
Que um caipira coitado
Sob um sol escaldante
Um vivo morto suado
Em busca de Lampião
Ele atravessou o sertão
Buscando ser justiçado
O Governador do Sertão
O avistou quase morrendo
E o fez beber água fria
E o coitado falou tremendo:
Socorra os pobres, Capitão
Porque um coronel valentão
Nos matar está querendo!
E Lampião assim ordenou
A sua tropa de cangaceiros:
Vamos queimar as fazendas
E castigar os desordeiros
Que são jagunços do coronel,
Melar sua bundas com mel
E sentá-los nos formigueiros!
E chegando na fazenda
Foi tiro pra todo lado
E cada jagunço acuado
Gritava..."tamo lascado"
E o fazendeiro valentão
De frente com Lampião,
O covarde ficou cagado...
Ainda viu cada fazenda
Uma a uma, ser queimada
E de repente ficou pobre
Pois sua vida foi poupada
Para virar um mendigo
De segunda até domingo
Mendigando na calçada...
E se fez enfim a justiça...
O ex-fazendeiro endoidou,
Perdeu a noção da vida
E numa árvore se enforcou
Pois era assim no sertão
Do Justiceiro Lampião
Que a história eternizou!
Antonio Alvares - Literatura de Cordel